Fórum Regional sobre Dependência Química critica autoridades e serviços públicos

Especial para o VERBO ONLINE

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra

Além de apresentar o trabalho de entidades e grupos de ajuda a pessoas com o vício das drogas e discutir ações para prevenção e tratamento contra a utilização de substâncias, o Fórum Regional sobre Dependência Química foi marcado por duras críticas a autoridades e serviços públicos que atendem usuários e outros cidadãos vulneráveis da sociedade, no sábado (11), na Câmara de Taboão da Serra. Cerca de 200 militantes e apoiadores da causa participaram do evento.

Um dos fundadores da Casa São José, Beto Almeida discursa no Fórum Regional
Fundador da Casa São José, Beto fala no Fórum e pede união por política pública contra drogas ‘que funcione’

O presidente do Centro de Recuperação Vida Eterna, em São Lourenço da Serra, protestou contra a Vigilância Sanitária. “Na teoria é muito bonito dizer não importa a religião, a placa da igreja, o que importa é nos unirmos. Na prática não é assim. Quando a Vigilância vai à nossa comunidade, chega chutando a porta. Ela deve fiscalizar, mas quem a fiscaliza quando abusa do poder? Devíamos ter uma comissão para fiscalizar a Vigilância”, disse o pastor Anderson Negrão.

Um dos organizadores do fórum, Narciso Favaro, membro do Conselho Nacional de Saúde, tomou a palavra em defesa do participante, que assumiu uma casa para mulheres dependentes, e disparou críticas. “Se uma mulher tiver um surto por dependência química, nas 15 cidades que atuo, não tenho onde internar. Menores presos com 3 g de maconha vão para a Fundação Casa. Não é lá que têm que estar, temos que tratá-los, mas não temos uma vaga para menor”, disse.

“Eu discordo das ações do Conselho Tutelar quando pega jovem e coloca como criminoso. O Estatuto da Criança não diz isso. Fico ferrado quando o camarada lê o estatuto e não entende, e joga para o pai e a mãe a responsabilidade que é da saúde pública!”, disse Narciso em discurso inflamado, sob aplausos. Ao comentar queixa do participante sobre o poder público querer fechar casas terapêuticas, ele reprovou a solução dada à instituição Asas Brancas, em Taboão.

“Fecharam uma instituição que tinha mais de 60 anos na cidade, tiraram de lá as crianças e as colocaram num galpão. Aquilo é um galpão! Fui conversar com a sra. promotora, que disse: ‘O sr. saia daqui ou vai preso’. [Eu disse:] ‘Então eu vou, a sra. me tira as crianças de um lugar onde tinham cama, comida e carinho e visita dos pais e coloca num galpão onde a cerca é de arame farpado’. O estatuto diz que aquilo é crime! A promotora não viu que é crime?”, disse Narciso.

Ele apontou que idosos também foram removidos do Asas Brancas por falta de condição de assistência. “A função do serviço social e de saúde por acaso não é dar acolhimento, ajudar? Tiraram uma pessoa que estava cinco anos lá pela instituição estar sem documentação. E a transferiram para outra que também estava sem documento! A Vigilância não é dona da vida das pessoas. Ela regulamenta, com orientação. Quem fecha é Ministério Público e polícia”, disse.

Uma moradora de Taboão criticou a falta de atendimento e os políticos da cidade. “Infelizmente, quando buscamos o serviço público, a gente não tem suporte. Eles querem que o paciente vá até lá. Quem [dependente] precisa de ajuda não vai, e vamos deixar nosso familiar morrer ou jogado? Quando eles precisam do voto, vão na nossa porta, mas para escutar a gente eles não vão. Eu me proponho pegar vários cidadãos comuns e ir atrás dos nossos direitos”, disse.

A secretária de Saúde de Taboão, Raquel Zaicaner, e o vereador Eduardo Nóbrega (PSDB), presidente da Comissão de Saúde da Câmara, participaram do fórum, mas já tinham ido embora quando as críticas e reclamações foram feitas. O vereador Ronaldo Onishi (SD), que chegou na parte final do evento, não estava no plenário. A ausência do Conselho Tutelar de Taboão foi notada. Antes, Onishi fez proposta de mapeamento de ocorrências de saúde envolvendo drogas.

Os participantes propuseram ainda o fortalecimento do “controle social” para auxiliar entidades e coibir abusos de órgãos públicos; criação de comissão de parlamentares da região com população; política de estreitamento de vínculos; controle de publicidade; e criação de sistema de “busca ativa”. “As pessoas têm recaídas, que exista um grupo no Caps [centro de tratamento] para ir atrás da família para saber o que houve com o paciente”, disse a irmã de uma usuária.

Ao final do fórum, os idealizadores de instituições de recuperação defenderam a existência de cada serviço ou trabalho de prevenção e tratamento e clamaram pela união para vencer o flagelo do uso das drogas. “Temos que sair daqui como agentes multiplicadores, para, enfim, iniciar uma política pública que dê resultado. A que existiu até hoje, que deixamos que os legisladores fizessem, não funcionou, não funcionou!”, disse, enfático, Beto Almeida, da Casa São José.

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