RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Diante da grita dos passageiros contra o aumento indigesto do ônibus municipal de Embu das Artes – de 18,8% em relação ao reajuste em 2016, três vezes mais que a inflação (6,29%) – e a menos de um mês da audiência pública do transporte para discutir a qualidade do serviço, o prefeito Ney Santos (PRB) deu um “passa-moleque” na população em plena sessão solene de aniversário da cidade ao afirmar entregar 20 ônibus “0 km” – o que se revelou um engodo.
Em discurso na cerimônia de 58 anos de Embu na Câmara, no dia 18 de fevereiro, Ney apontou que foi o presidente do Legislativo, Hugo Prado (PSB), quando prefeito interino, que decretou o reajuste, mas defendeu o aumento, até disse que teria autorizado já se estivesse no cargo. “Muita gente estava criticando o aumento da passagem. Não fui eu que aumentei, foi o prefeito interino. Mas quero aqui, além de ser solidário, dizer que eu teria aumentado também”, disse.
“Eu pergunto: será que de um ano para cá, desde o último aumento, não aumentou o combustível? Não aumentou o pneu? Não aumentou o salário dos trabalhadores, motorista e cobrador? O que foi que não aumentou em um ano, olha para quanto foi o quilo do feijão, do arroz, que vocês vão entender. Não adianta querer pressionar a empresa para colocar ônibus novos, novas linhas onde não tem, se ela não tiver também condições de manter o serviço”, disse Ney.
Ney disse que para governar uma cidade “não pode ser covarde” e é preciso “algumas vezes tomar medida impopular para lá na frente servir de grande ganho”. “Como vocês vão ver hoje, está parado [sic] aí na porta 20 ônibus novos que vamos entregar para a população. O pessoal da Transartes [empresa] já sabe a obrigação que colocamos, queremos até o mês de junho 40 ônibus 0 Km, 20 estão aí na porta, e os outros 20 eles têm que entregar até junho”, discursou.
“Aumenta a qualidade do transporte, as pessoas vão ter melhor conforto, não vão ter que pegar aqueles ônibus e ficar pendurado, às vezes com má manutenção. Vai ter novos ônibus, vão se sentir beneficiadas”, completou. Após a sessão, acompanhado de vereadores aliados e apoiadores, Ney foi até o lado de fora e entrou em um ônibus parado em frente à Câmara – de prefixo “1010”, número do partido do prefeito. Ele sentou no banco do motorista e posou para fotos.
Apesar de anunciar 20 ônibus “0 km”, todos os ônibus a que a imprensa teve acesso, mesmo com aparência de novo por dentro, marcavam mais de 2 mil quilômetros rodados. O próprio ônibus em que Ney entrou tinha rodado ainda mais, o dobro – marcava 4.375 quilômetros percorridos (distância entre Embu e Salvador-BA, ida e volta). Ele dirigiu o coletivo da Câmara até o parque Rizzo, distante cerca de 5 quilômetros – não seria habilitado para condução de ônibus.
A audiência está marcada para esta quarta-feira (8), 17h, na Câmara. Segundo o presidente Hugo, a discussão, porém, será sobre melhorias no sistema, e não acerca da tarifa, que não será revogada. Há um mês, Hugo acusou Rosângela Santos (PT) de “fazer média” ao participar de protesto contra o reajuste e disse que, ao contrário do “governo do PT”, a Casa fará “discussão mais ampla”. Na sessão passada, Hugo só anunciou a audiência após intervenção de Rosângela.
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