ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
O padre de Embu das Artes que classificou de “blasfêmia” a autorização do cardeal de São Paulo para que a escola Unidos de Vila Maria desfilasse no Carnaval paulistano com samba-enredo sobre Nossa Senhora Aparecida manteve a reprovação à decisão, mas disse não ter criticado dom Odilo Scherer. Gian Ruzzi, da Paróquia Todos os Santos no Jardim Santa Emília (Diocese de Campo Limpo), disse que apenas discordou de “seu endosso neste evento concreto”.
Padre Gian disse entender a posição do cardeal ao considerar que quis evitar críticas à Igreja se não autorizasse, “mas a Igreja precisa lidar com princípios”. “Entendo que a presença da imagem de Nossa Senhora, de sacerdotes no desfile, a bênção por parte da Igreja seja, por si só, blasfêmia, ainda que tomaram-se todos os cuidados para não haver mulheres nuas, homens seminus”, dispara em vídeo que publicou na sexta-feira (24). O desfile foi na madrugada de sábado.
Padre Gian diz ainda que soube por amigos padres que dom Odilo “pediu, enfaticamente, que os seus padres não participassem do desfile”. “Por quê? É óbvio, não é um lugar adequado para um sacerdote. E se não é um lugar adequado para um sacerdote, será um lugar adequado para a Virgem Maria? Para a bênção? Eu acredito que não. Repito, entendo a posição política, conciliadora do senhor cardeal, mas preciso discordar dela com veemência”, declara.
No fim do vídeo, padre Gian diz, antes de ocorrer o desfile: “Convido a todos que ofereçamos intimamente, sem criar mais divisão, mais polêmica, as nossas orações em reparação ao imaculado coração de Maria. Possamos oferecer os exercícios quaresmais em reparação do coração da mãe de Deus, que será tão ofendido por essa blasfêmia, essa galhofa de satanás”. Ele pede ainda que Deus “ilumine nossos pastores e que Nossa Senhora tenha piedade de nós”.
Após reportagem do VERBO sobre o que declarou, padre Gian fez reparo em postagem do site. “Por favor, tenham a bondade de reescrever chamada da machete. Não critiquei Sua Eminência. Apenas discordo de seu endosso neste evento concreto”, disse. Em mensagem ao repórter, ele reforçou: “Sua reportagem está bem escrita. Agradeço, já que achou o assunto de alguma relevância, a imparcialidade. No entanto, peço que tenha a bondade apenas de reescrever a chamada. Entendo que elas precisam chamar a atenção do leitor, mas eu não critiquei exatamente Sua Eminência”.
A posição de Gian repercutida pela reportagem dividiu opiniões. Muitos concordaram com o padre ao defender que não se deve misturar símbolo sagrado com festa não cristã. “Não sou a favor de misturar a pureza de Nossa Senhora com Carnaval”, disse Eufrásia Francisco. Ele teve apoio de colegas do clero. “O padre não foi desrespeitoso, manifestou sua discordância, de forma decorosa. Além disso, o cardeal não é o superior do padre”, disse o padre Alessandro Faria.
Outros católicos aprovaram. “Até minha mãe, de 95 anos, devotíssima de NSa. [Nossa Senhora], ao ler todo o processo feito em comunhão com a escola de samba, ficou feliz com a atitude de dom Odilo”, disse João Luiz Saracchini. Na arquidiocese do cardeal, a opinião do padre repercutiu mal. “Padre de Embu, aqui vai um conselho de um velho padre de 45 anos de sacerdócio: Nossa Senhora Aparecida é mãe de todos os que vivem neste país, dos que pulam o Carnaval e dos que não pulam… Juízo, meu irmão! Veja a íntegra do desfile e…pense”, escreveu o cônego Aparecido Pereira.
Contatado pelo VERBO por meio da assessoria, o cardeal não se manifestou. De acordo com o “Estado de S. Paulo”, os representantes da arquidiocese que negociaram com os carnavalescos o samba-enredo e os figurinos do desfile ficaram muito satisfeitos, ao não ver nada de mulher seminua ou insinuação erótica – tudo com o esperado respeito ao se lembrar os 300 anos da aparição de Nossa Senhora. No camarote do sambódromo, um padre registrou a festa pelo celular e enviou fotos para dom Odilo, que acompanhou pela TV e gostou do desfile. Foi “decente”, disse o cardeal.
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