RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Apesar de alardear que foi escolhido prefeito de Embu das Artes com quase 80% dos votos válidos, Ney Santos (PRB) foi o eleito com a segunda pior votação absoluta ao menos nas últimas cinco eleições ou 16 anos na cidade. Festejado por Ney logo após o pleito, o resultado virou um dos principais argumentos de cabos eleitorais contra a decisão da Justiça de mandar prender Ney, denunciado pelo Ministério Público por associação a facção criminosa e tráfico de drogas.
Ney está foragido desde que o Gaeco (grupo de combate ao crime organizado) deflagrou a operação para ser preso, em 9 de dezembro. Conforme apurou o VERBO, sem conseguir habeas corpus, Ney não aparecerá na posse, nesta quarta-feira (25), apesar da convocação – ele entrou com o terceiro pedido de relaxamento da prisão na segunda em Brasília, no Supremo Tribunal de Justiça (STJ). Já o vice Dr. Peter (PMDB) será empossado e assumirá a prefeitura em exercício.
Em debates ríspidos com adversários, correligionários fazem questão de lembrar que Ney foi eleito com 79,45% dos votos válidos, inclusive com faixas “Respeite o meu voto” como as mostradas no dia da posse apenas dos vereadores eleitos, em 1º de janeiro – Ney e Dr. Peter foram impedidos pela Justiça. A percepção de vitória esmagadora, porém, é falsa. Dos 147.870 eleitores que foram às urnas em Embu, 64.828 votaram em Ney, mas 83.042 não votaram nele.
Os 64.828 votos significam que Ney teve, a rigor, 43,84% dos votos dos eleitores que foram às urnas. Assim, Ney teve desempenho bem abaixo do de Chico Brito em 2012, quando o então petista teve 53,82% dos que votaram no pleito (80.541 votos para 149.646 votantes), e também em 2008, quando Chico atingiu 51,67% dos votos dos presentes às eleições (72.723 votos para 140.736 votantes). Chico já desdenhou que ainda detém a maior votação absoluta de Embu.
Ney teve desempenho pior até que o do desafeto Geraldo Cruz (PT) em 2004, quando o prefeito que tentava novo mandato foi reeleito com 48,73% dos votos dos que compareceram às urnas (62.438 para 128.123 votantes). Ney só teve resultado melhor que o do próprio Geraldo na primeira eleição do líder do PT, partido que chegava ao poder em Embu. Em 2000, Geraldo teve 45.013 votos entre 106.306 votantes ou 42,34%, só um pouco abaixo da marca de Ney.
Ney pode ter um resultado ainda pior se considerado o número de eleitores aptos a votar. No caso, ele atingiria apenas 38,57% dos votos, ou seja, 64.828 votos entre 168.050 votantes – os que se abstiveram podiam ser eleitores de Ney e não puderam comparecer, mas também podem não ter ido às urnas por não quererem votar em Ney. Considerado o eleitorado total, Chico teve 45,33% dos votos em 2012 e 44,65% em 2008. Geraldo, 42,46% em 2004 e 37,20% em 2000.
Ney teve quase 80% dos votos válidos, mas porque o principal adversário, Geraldo, não teve a votação computada, por ter concorrido inelegível – por uso indevido de jornal na campanha para deputado em 2014. Caso os 35.697 votos de Geraldo fossem contabilizados, Ney teria 55,3% e o petista, 30,4% dos votos válidos. Sem Geraldo, os outros candidatos tiveram votação muito baixa. “Foi uma eleição ganha [por Ney] praticamente por WO”, disse uma autoridade do direito.
Apesar da disputa favorável com Geraldo fora do páreo e outros adversários sem densidade eleitoral, além de uma campanha “milionária” – com gasto registrado de mais de R$ 1,2 milhão -, Ney não conseguiu ter pelo menos mais 25 mil votos, conforme dizia. Em bate-boca violento por telefone com um ex-assessor a 20 dias da eleição, em que falou “n” palavrões com ofensa moral, Ney disse ao interlocutor: “Quando você ver 90 mil votos dentro da urna, vai enfartar”.
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