RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em São Paulo
A investigação de promotores do Gaeco (grupo de combate ao crime organizado) do Ministério Público de São Paulo transformada em denúncia contra Ney Santos (PRB) por tráfico de drogas, associação a facção criminosa e lavagem de dinheiro é tão consistente que seria aprovada por procuradores da operação Lava Jato – que apura o maior escândalo de corrupção no país, de desvio de recursos da Petrobras -, avalia uma autoridade do direito que conhece o processo.
Ney teve a prisão decretada no dia 9 e está foragido desde a data, quando os promotores executaram 49 mandados de busca e apreensão e 14 de prisão – sete pessoas foram presas e sete continuam foragidas, entre elas Ney. Devido à denúncia, ele não tomará posse como prefeito eleito, neste domingo (1º). Como parte da campanha da chapa foi paga com dinheiro ilícito, segundo o Ministério Público, o vice Dr. Peter (PMDB) também não poderá assumir o Executivo.
Na denúncia do Ministério Público resultado da operação Xibalba (submundo governado por “senhores malignos”, na mitologia maia), os promotores dizem que “é certo que Claudinei Alves dos Santos [verdadeiro nome de Ney] há mais de dez anos constitui, de forma criminosa, verdadeiro império, tendo como objetivo principal, além do conforto e luxo que lhe proporciona o dinheiro ilícito angariado, o seu ingresso no Poder do Estado” – no Legislativo e Executivo.
Na ação, o Gaeco acusa, ao se referir a Ney, que “o seu envolvimento com o crime é patente e se verifica desde a época em que tinha apenas 19 anos, quando foi preso em flagrante delito pela prática de receptação dolosa e formação de quadrilha”. Os promotores dizem ainda que Ney também ficou preso, “em flagrante delito”, do ano de 2003 a julho de 2005, “pela prática de roubo a banco na cidade de Marília [oeste do Estado]”, acusação de que foi absolvido depois.
De acordo ainda com o MP, “a partir dessa breve passagem pelo sistema penitenciário, CLAUDINEI constituiu fortuna de forma relâmpago, enveredando-se para a área política”, em que teve a ajuda do contador Roberto Yoshitake, um dos presos no dia 9. Entre outras práticas, Ney constituiu ou comprou empresas, principalmente postos de gasolina, “em nome de terceiros”, na capital e na Grande São Paulo, para tornar lícito dinheiro do crime (“lavagem de dinheiro”).
As investigações também o ligam a uma facção criminosa que age dentro e fora dos presídios e “notadamente ao tráfico de drogas”. De acordo com a denúncia, Ney “era efetivamente o responsável pela venda de drogas em parte considerável da região oeste do Estado”. Uma testemunha chegou a declarar que em Embu e região “Ney tem grande influência junto com os traficantes” e não havia “movimentação ou atividade do tráfico que não passava pela mão de Ney Santos”.
“O processo criminal tem 6 mil folhas. As provas são mais que suficientes para obrigar a defesa a produzir provas em sentido contrário. E vai ter muito o que fazer. Sendo que a operação Xibalba em si, naquele dia 9, veio a obter novas evidências. Para resumir, foi uma investigação que os procuradores da Lava Jato aprovariam”, disse ao VERBO a autoridade a par dos autos. Ney disse que as acusações são as mesmas de seis anos atrás e que não se entregará.
Em misto de perplexidade e indignação, moradores de Embu fizeram, de imediato, comparação do caso Ney com o do prefeito eleito de Osasco, que também teve a prisão decretada. Com a soltura, na sexta-feira (30), de Rogério Lins – que poderá tomar posse -, passaram também a acreditar que Ney teria suspenso o mandado de prisão. Porém, a denúncia em Osasco não afeta a Justiça Eleitoral, o delito praticado naquela cidade não tem reflexos nas eleições neste ano.
Já em Embu o dinheiro lavado teria sido utilizado na campanha de Ney-Dr. Peter. Outra diferença é que o eleito de Osasco foi solto pela Justiça após se entregar. Não é o caso do eleito de Embu. Ney é acossado por dois processos, o criminal e o eleitoral, o que torna inclusive mais caro o serviço dos advogados. O renomado criminalista Alberto Toron representou Ney no habeas corpus, mas não no mandado de segurança de Dr. Peter – ambas liminares foram negadas.
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