ANA CAROLINA RODRIGUES
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) participou nesta sexta-feira (8) em Taboão da Serra do ato “Em defesa do Minha Casa, Minha Vida – Entidades e contra o golpe” e disse ter “orgulho” da construção do conjunto habitacional João Cândido, no Jardim Salete, onde foi recebida. Ela também voltou a afirmar que sofre “injustiça” no processo de impeachment e ironizou a renúncia do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara.
Diante de milhares de moradores e militantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) e MST (Movimento de Sem-Terra) de Taboão no condomínio construído com recursos do programa federal, Dilma discursou que vai “resistir” ao afastamento da presidência e pediu apoio contra os autores da investida. “Nós vamos resistir a esse golpe, não os tememos, eles não pensem que por ser mulher terei receio de enfrentá-los”, disse, ovacionada.
“As mulheres deste país são lutadoras e corajosas, nós resistimos a muita coisa, eu honro o fato de ser a primeira mulher presidente da República. Pediram, insinuaram, pressionaram para eu renunciar. Jamais faria isso. Sabe por quê? Porque o povo deste país me deu 54 milhões de votos e porque mulher não renuncia, não cede à luta, honramos a nossa condição”, disse Dilma, em ironia a Cunha, que anunciou na quinta-feira (7) a saída da cadeira de presidente da Casa.
“Eu sou inocente, não tenho conta na Suíça, nunca roubei”, disse Dilma, em nova farpa ao deputado, acusado de ter contas no país europeu irrigadas com dinheiro de corrupção em estatais do governo, a quem aponta como mentor de ter sido afastada. O coordenador do MTST Guilherme Boulos afirmou que Cunha planejou “nas sombras” o processo de impeachment e debochou do choro do deputado ao renunciar. “Queremos vê-lo chorar na cadeia”, disse.
Ao falar sobre o Minha Casa, Minha Vida, Dilma acusou o governo interino de Michel Temer (PMDB) de querer parar a ação federal de moradia, ao se referir às famílias beneficiárias com renda de até R$ 1.800, a mais baixa do programa. “Eles querem acabar com a faixa 1. Acabar com a faixa 1 é acabar com o Minha Casa, Minha Vida”, disse a petista. A gestão Temer revogou a construção de parte das unidades do programa e iria relançar o segmento voltado a entidades.
Dilma disse ter grande satisfação pela construção do condomínio gerida pelos movimentos sociais com recursos do Minha Casa, criado em 2006 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e reforçado pela petista com a modalidade entidades. No local, 384 apartamentos foram entregues. “Vocês não têm ideia do meu imenso orgulho de ver o que está aqui realizado, porque eu compartilho uma parte disso com cada uma das famílias e todos aqui”, disse.
“Vocês orgulham este país, este país precisa de gente que seja capaz de lutar pelos seus interesses, interesses do povo. Quero agradecer o convite de vir aqui nesta linda tarde aqui em São Paulo, aqui em Taboão da Serra. João Cândido, certamente, nos inspira neste dia de hoje”, finalizou Dilma, ao reverenciar o nome do condomínio – líder da resistência em 1910 na chamada revolta da chibata, contra o castigo aos marinheiros, então 90% negros.
Líder do MST de Taboão, Paulo Félix definiu o ato como “histórico” e fez coro ao “Fora Temer”. “Uma multidão participou do evento que deixou claro que o povo organizado não aceitará o retrocesso nas políticas sociais obtidas com muita luta e sacrifício. Ao mesmo tempo, não daremos trégua aos golpistas chefiados por Cunha e Temer que usurparam o poder de forma ilegítima e querem liquidar os direitos e as conquistas do povo brasileiro”, declarou.