Sob protestos, Alckmin adia reorganização, mas alunos continuam ocupação

Especial para o VERBO ONLINE

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO em Taboão da Serra
ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO, em Embu das Artes e Itapecerica da Serra

Após ocupações de escolas estaduais seguidas por protestos de estudantes em vias públicas em São Paulo e na região metropolitana, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou nesta sexta-feira (4) a suspensão da reorganização da rede de ensino que tinha determinado que vigorasse em 2016, mas alunos que tomaram colégios da região, em Taboão da Serra (duas), Embu das Artes (uma) e Itapecerica da Serra (uma), continuam com a ocupação das unidades.

Alunos guardam portão da Domingos Mignoni, que não teria mais ensino médio em 2016 sem o adiamento

“2016, que seria o ano da implementação, será o de aprofundarmos o diálogo”, afirmou Alckmin, em um discurso de menos de cinco minutos – após o qual não quis responder a perguntas de jornalistas -, quase um mês após as primeiras ocupações e na semana em que os estudantes passaram a bloquear vias. O projeto do governador ia fechar 93 colégios e transferir 311 alunos de escola. Com o recuo, o secretário Herman Voorwald (Educação) pediu demissão.

De acordo com os estudantes, a decisão de Alckmin de suspender, e não de revogar, a reorganização escolar não garante que o projeto não será retomado depois. “A partir do momento que ele suspendeu, ele adia”, disse Caio Francelino, 17, no 3º ano do ensino médio da escola Domingos Mignoni, na região central de Taboão, ocupada por cerca de 40 alunos. A Antônio Inácio Maciel é a segunda escola ocupada na cidade, desde a noite de quarta-feira (2).

Os estudantes das escolas ocupadas em Taboão pretendem continuar com o ato até que o governador desista da reorganização escolar. “[Assim como o governo] A gente também decidiu adiar [o fim da ocupação], porque não se tem uma decisão concreta, não foi elaborado um projeto de cartório para realmente ser revogado e não acontecer”, afirmou Francelino. Em 2016, a Domingos Mignoni não ia ter mais ensino médio, apenas fundamental do 6º ao 9º ano.

Na escola Ede Wilson Gonzaga, no Jardim São Luiz, a única ocupada em Embu, os alunos dizem que vão decidir se permanecem. “Vamos resolver isso [neste] domingo em reunião com outras escolas”, disse Fernanda Matsu, 16, entre “uns 10 [alunos] frequentes” que participam do movimento. O grupo, porém, vai festejar que o governo cedeu. “Comemoraremos. Provalvelmente, sábado à noite [hoje] ou domingo. O senhor está convidado”, disse ao VERBO.

O governo pretendia criar mais 754 escolas de ciclo único, com o argumento de melhorar o ensino, mas o plano, com inconsistências como fechar colégios já de faixas etárias exclusivas e com notas acima da média estadual, sofreu resistência desde quando anunciado, em setembro. Alckmin adiou o processo no dia em que o Datafolha divulgou pesquisa em que aparece com 28% de popularidade, a pior marca que atingiu em quatro mandatos de governador.

Escola Ede Wilson Gonzaga, em Embu, ocupada por estudantes contrários a reorganização do ensino estadual

Para Luciana Pereira, professora e mãe de aluno, Alckmin tomou a decisão de adiar a reorganização do ensino estadual para sair do foco da grande mídia em meio ao aprofundamento da crise política no país com acolhimento pela Câmara dos Deputados do pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT). “A gente teve o conhecimento de que a mídia começou a pressionar ele [governador], e a mídia quer falar do impeachment, né?”, observou Luciana.

A pesquisa Datafolha mostrou ainda que 61% eram contra a reorganização e 55% apoiavam os protestos. Na terça-feira (1º), cerca de 60 alunos da Domingos Mignoni, munidos de carteiras, bloquearam a rodovia Régis Bittencourt no centro de Taboão contra a mudança nas escolas, acompanhados pela Polícia Militar e Guarda Civil Municipal. Apesar de gerar engarrafamento na região, o protesto ocorreu pacificamente. Em Itapecerica, a escola ocupada é a Asa Branca da Serra.

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