ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Alunos da escola estadual Ede Wilson Gonzaga, no Jardim São Luiz, em Embu das Artes, ocuparam o colégio na noite de quinta-feira (19) em protesto contra a reorganização do ensino determinada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB). Cerca de 80 estudantes participam da ação, além de militantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). A unidade não será fechada, mas não terá mais o ensino médio no ano que vem, apenas fundamental do 6º ao 9º ano.
Pela reforma do governo do Estado, os alunos serão transferidos para a EE Jardim São Luiz II, que fica ao lado da Ede Wilson, mas eles não aceitam. “A gente está nisso [ocupação] não é nem pela distância, é por causa da nossa história nesta escola. E porque vai acabar prejudicando, vai superlotar salas e não vai ter como ter aula em que se aprenda”, disse Marcos Vinícius Pinheiro, 17, que estuda desde a antiga 5ª série no colégio e hoje está no 3º ano do ensino médio.
“Na verdade, eles [governo] querem cortar custos, vão fechar inúmeras escolas, demitir inúmeras pessoas, cancelar o noturno em muitos lugares, com isso já diminuem muito o gasto que têm com professores que trabalham à noite e têm adicional noturno”, disse Camila Aquino, 16, no 2º do ensino médio na Ede Wilson. “Eles falam que vai ser melhor para a gente, mas vai ser para eles. É um corte desnecessário, quanto mais se investe em educação melhor”, acrescentou.
“A gente não está lutando só contra a reorganização nesta escola, mas em São Paulo inteiro, não está aqui só como alunos da Ede Wilson, está como cidadão”, continuou Camila, ao reivindicar que os alunos no ensino médio prossigam no colégio em 2016. “A gente conhece os funcionários, professores, tem uma história aqui, já fez muito por essa escola, não quer deixar isso perdido, até porque ela é nossa também. Estão tirando nosso maior patrimônio”, declarou.
No pátio, sete folhas na parede listavam mais de 400 alunos para transferência. No 2º ano do ensino médio, Victor Luiz dos Santos, 16, se assustou com relação com cerca de 60 nomes cada e achou que fosse o número de estudantes por classe, mas disse esperar turmas abarrotadas. “Vai atrapalhar bastante o aprendizado de quem tem dificuldade de atenção, que não consegue se concentrar fácil. Com sala superlotada, vai ser mais difícil aprender do que já é”, disse.
Os alunos rejeitam também pela estrutura do colégio de destino. “A escola do lado não comporta o ensino médio, é totalmente aberta, já teve várias ocorrências, gente que roubou na rua e foi para dentro da escola”, disse Camila. “Aqui temos câmeras, os muros são altos e ainda tem alambrado para a nossa segurança. A escola lá é só cercada com grades e baixas, pulou aquilo está dentro”, reforçou Marcos Vinícius. Com frente vazada, drogas têm acesso fácil.
Antes da ocupação, alunos realizaram abraços simbólicos na Ede Wilson e uma passeata que bloqueou avenida na região, em mobilização que gerou polêmica. Segundo os estudantes, alguns pais proibiram os filhos de participar do movimento após coação da diretora da escola, que ameaçou fazer um boletim de ocorrência contra o grupo e chegou a dizer para um responsável que corria o risco de perder a guarda da adolescente pela aluna se manifestar, relatam.
O Conselho Tutelar foi acionado. “A diretora disse para pais que ia chamar, mas fomos nós que chamamos, porque fomos ameaçados. Os conselheiros tutelares falaram que estavam orgulhosos da gente, que queriam adolescentes críticos, nos davam total apoio”, disse uma aluna. O VERBO não conseguiu contatar a diretora nem o Conselho Tutelar. Alunos falam em ocupar enquanto a escola não voltar ao que era. “Até essa reorganização ser revogada”, disse Camila.