‘Não sou homem de barganha’, diz Macário ao ir para PSDB e criticar PT

Especial para o VERBO ONLINE

Ex-vereador Macário, que se filiou ao PSDB de Fernando após 12 anos no PT, em entrevista no Jd. Elizabete

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra

Vereador e presidente da Câmara de Taboão da Serra na legislatura passada (2009-12) pelo Partido dos Trabalhadores, José Macário diz não ter barganhado para se filiar ao PSDB e que foi para a sigla do prefeito Fernando Fernandes, arqui-inimigo político do PT, pelo compromisso assumido pelo mandatário de realizar obras e melhorias onde mora. “Eu não fiz nenhuma barganha com o prefeito, não sou homem de barganha”, diz o ex-petista, que deixou o PT em junho.

Macário recebeu o prefeito em casa, no Jardim Elizabete, região do São Judas, para assinar a filiação ao PSDB, no dia 25 de outubro, um domingo. O ato caiu com uma bomba no antigo partido. “Foi um desapontamento geral, uma tragédia, um negócio absurdo”, diz o presidente do PT de Taboão da Serra, Wagner Eckstein, que, apesar de não surpreso, tinha a expectativa de que Macário fosse para outra sigla. “Ter ido para o PSDB é um horror, um oportunismo deslavado”, diz.

“Ele tomou muitas decisões erradas ao longo de 4 anos de vereador, tanto que não foi eleito [para novo mandato]. Tomou decisões mais erradas ainda enquanto presidente. E agora, indo para o PSDB, avalio como a derradeira, porque vai enterrar a carreira política dele”, fala o ex-vereador Eckstein. Macário retruca que o ex-colega de partido e de Câmara foi “infeliz, imprudente e incoerente” e que “vai ter oportunidade de se retratar”. Leia “Entrevista da Semana”.

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VERBO – Por que o sr. se filiou ao partido do prefeito Fernando Fernandes?
José Macário – Eu me filiei ao PSDB ao avaliar a política na cidade e a atual conjuntura no país. Conversei com [o ex-vereador] Aprígio [PSD] no final do ano passado e no começo deste ano, conversei também com o ex-prefeito Evilásio [Farias, PSB]. Percebi que tanto Aprígio como Evilásio tinham dificuldade de agregar pessoas. Aprígio é uma excelente pessoa, que admiro muito, mas hoje na política você precisa montar um time, ter um grupo. Se não tiver, fica difícil atuar, até porque com a mudança na lei, com a minirreforma aprovada, no ano que vem a política vai ser totalmente diferente, vai ser a política de quem tem grupo, de quem tem amigos, do partido que conseguir formar um time forte, coeso. É um dos pontos que me fizeram me filiar ao PSDB. Eu sempre me dei bem com todos os políticos da cidade, aliás, na minha vida só deixei boas amizades, sempre fui alguém que, se não posso agregar, também não atrapalho. Não vou fazer críticas ao PT, ao qual estive filiado por 12 anos, fui vereador e presidente da Câmara. O PT deu a sua contribuição. Agora, precisa sentar, fazer a reflexão, baixar a aresta [crista] e se reconstruir. Com as brigas internas, o PT perdeu a condição de conquistar a prefeitura da nossa cidade.

VERBO – Objetivamente, o sr. foi para o PSDB em troca de quê?
Macário – O Fernando conversa comigo desde que se elegeu prefeito: “Macário, eu quero você no meu governo”. Eu não fui trabalhar no governo até por ter minha empresa, sou construtor, atuo na construção civil, e achei que poderia dar minha contribuição sem ser funcionário. O Fernando sempre ficou me convidando, inclusive na eleição passada [municipal, em 2012], quando eu era vereador e presidente da Câmara pelo PT, ele me convidou para ser vice dele. O fato determinante para eu ter ido para o PSDB foi a falta de [atendimento a] demanda na região [Jardim Elizabete]. Fernando justifica que os prédios aqui na rua Manoel Maria Fernandes estão inacabados por problema na licitação da época. Disse que teve de fazer uma nova licitação e assumiu o compromisso de entregar até 31 de dezembro. Ele me garantiu também que no terreno que a prefeitura comprou e onde antigamente era um galpão, que foi demolido, na mesma rua, vai fazer uma quadra poliesportiva e uma espécie de Cras [unidade de assistência social] para dar cursos profissionalizantes. Tinha uma quadra lá em baixo, em terreno particular, mas foi aterrada, e os jovens daqui, que são milhares, estão sem nenhuma praça de esporte. Ele prometeu fazer e terminar até meados do ano que vem. Não só a quadra e o Cras, mas um espaço para o pessoal caminhar, fazer ginástica, a nossa região está carente disso. Ele se comprometeu comigo também a arrumar as vielas do Jardim Comunitário, várias ficaram inacabadas por causa da Sabesp, algumas estão escuras, que já denominamos. O prefeito já se comprometeu a fazer uma caminhada comigo pela cidade, principalmente pela região aqui. Eu não fiz nenhuma barganha com o prefeito, aliás, não sou homem de barganha. O compromisso que o prefeito assumiu comigo e com a comunidade foi de resolver todas essas demandas, o que me fez me filiar no PSDB. E também, sou sincero, o time que tem o PSDB. Na eleição passada, saí pelo PT novamente [candidato a deputado federal], e nosso time fracassou. Quem vai vencer a eleição é quem tem time, quem tem grupo na cidade. Eu nunca fiz críticas ao Fernando Fernandes, que está no terceiro mandato na cidade. As críticas que fiz foram construtivas. Nunca fiz política com fígado. Faço com o coração e a razão. Fui para o PSDB, como iria para qualquer outro partido, simplesmente pelo compromisso assumido com a cidade.

VERBO – O presidente do PT [de Taboão] Wagner Eckstein disse que o sr. foi para o PSDB por oportunismo eleitoreiro.
Macário – Se o Wagner fez essa fala, ele foi infeliz e imprudente. Ele me conhece, sabe da minha capacidade, sabe da minha transparência, inclusive foi vereador junto comigo. Eu sempre o apoiei em todas as questões dentro do PT. Se fez essa fala, foi infeliz, imprudente e incoerente. Não sei se ele falou no calor da emoção, mas quem tem responsabilidade não faz um ataque dessa maneira, principalmente contra uma liderança da cidade. As pessoas que me conhecem sabem que eu não posso ser tratado desse jeito. Quem sabe, num momento oportuno, ele vai ter oportunidade de se retratar.

VERBO – Por que o sr. saiu do PT?
Macário – Não é novidade, todo mundo sabe na cidade, que eu apareci no PT do nada, eu era – era, não –, sou uma liderança de bairro e meu nome expandiu na cidade. Sou nordestino, desde o Nordeste que acompanhei o nascimento do Partido dos Trabalhadores. Por ser nordestino e me identificar com o partido, eu me filiei, fui candidato, fui eleito. Agora, o problema do PT, principalmente em Taboão da Serra, onde a situação do partido é mais crítica, é a questão do poder. O time do PT não pensa num projeto. Eu sugeri isso várias vezes dentro do PT, inclusive, quando não fui reeleito vereador, reunimos a executiva e coloquei uma proposta, pedi o apoio de todos para que me apoiasse para deputado federal [em 2014]. Se eles achassem que eu estaria construindo uma candidatura depois para vereador ou a prefeito, falei para o presidente Wagner Eckstein que podia não me dar legenda para nada, inclusive me propus a coordenar a campanha dele [em 2016]. Quando comecei a falar, todos se inscreveram para me dar porrada. Quando ouviram no final a proposta, que abriria mão de candidatura, quem tinha se inscrito desistiu da fala. Mas o presidente Wagner Eckstein não aceitou a proposta, aliás, todo o coletivo do PT não aceitou. Eu vim candidato a deputado, consegui a legenda, porque houve um boato interno de que iam fazer uma conversa para que eu não saísse a deputado. Isso me fez me distanciar do PT e sair definitivamente. Infelizmente, o PT de Taboão da Serra é dividido, tem três grupos [rivais]. Quando acontece isso, não constrói. Eu tenho pique para trabalhar, quero ser atuante na política com transparência como fui na Câmara, como vereador e presidente. Eu preciso de um partido que me dê suporte e acho que vou encontrar no PSDB, partido que me acolheu e tem conhecimento da minha liderança. O PT não vai perder só a mim, vai perder muitas lideranças, como já perdeu. O Wagner, que me fez essa crítica, se não tomar cuidado, como presidente vai deixar o partido em mais saia justa, numa situação mais difícil para se reconstruir.

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VERBO – Como o sr. se imagina candidato a vereador pelo PSDB, já que o partido tem muitas lideranças com potencial de ganhar uma cadeira na Câmara. O sr. hoje é pré-candidato a vereador, certo?
Macário – Sou pré-candidato [pelo PSDB]. Agora, do jeito que está a política no país, hoje [o que vai pesar] não é a sigla, é a pessoa. O eleitorado tem que tomar cuidado e avaliar não o partido, mas o candidato, buscar como referência o que ele fez, o que faz, o que pode fazer no futuro. Eu nunca fiz crítica ao PSDB, nem ao PMDB, a nenhum partido. Sempre fiz crítica a pessoas, porque o que constrói não é a sigla partidária, e sim as pessoas. Hoje, o eleitor vê entre PT e PSDB uma rivalidade. Tem que tirar isso da cabeça, não tem que se associar a sigla, mas ver as pessoas em quem vai votar e conduzir ao poder. Isso que vai definir o futuro da cidade, do Estado e do país.

VERBO – É natural o sr. ter saído do PT e ir para o PSDB? São inimigos políticos.
Macário – Para mim, é natural. Isso não quer dizer nada. Já aconteceu [também] de gente sair do PSDB e ir para o PT. Lógico, é uma coisa que acontece muito pouco, mas de oito anos para cá em algumas cidades, até do interior paulista – não me recordo o nome –, aconteceu, foi feita a coligação PT-PSDB. Isso caminha para acontecer mais vezes no futuro. Talvez, não vai acontecer agora com excessividade por conta de o PT estar em crise. Não fosse isso, tudo caminharia para lá na frente estarem juntos. Dou como exemplo o PMDB, quem diria que o PMDB um dia se aliaria ao PT, e tantos outros partidos. Estamos no século 21, daqui a pouco esses partidos vão todos se fundir. O que importa hoje não é a sigla, mas a pessoa.

VERBO – Com que sentimento o sr. deixou o PT?
Macário – O PT construiu muito pelo país, mas algumas lideranças que chegaram e fizeram história no PT depois acabaram cometendo crimes graves, inclusive estão pagando já. E qualquer político que venha fazer esse tipo de coisa também vai pagar, aquela pessoa que se aproxima da política para tirar proveito próprio vai pagar, hoje o Ministério Público e outros órgãos competentes estão de olho. Isso que vai acarretar a transparência na nossa cidade, nosso Estado e país para as gerações futuras.

VERBO – O líder petista membro da executiva Wanderley Bressan publicou no Facebook uma espécie de carta aberta dirigida ao sr., dizendo que o sr. sempre teve espaço no PT para disputar a eleição que quisesse e saiu do partido por ter um projeto pessoal, e que nunca foi ou desde 2012 nunca esteve de verdade somando com o partido, ao se referir à possibilidade de ser vice de Fernando.
Macário – É uma declaração própria de um casal que se separa, um fica arrumando defeito no outro. Muitas lideranças do PT sempre fizeram críticas a minha pessoa por eu conversar com todos os políticos da cidade. O Wanderley e o próprio Wagner falavam, internamente, que não queriam diálogo com o Fernando. Eles não fazem política com o coração, fazem com o fígado. E eu nunca tive espaço dentro do partido, nenhuma liderança do PT ou de qualquer outro partido pode dizer, por exemplo, que tive emprego ou fiz indicação de emprego em Embu [das Artes], em Osasco, em Carapicuíba, em São Paulo, em qualquer cidade que o PT governa.

VERBO – O sr. indicou e não aceitaram?
Macário – Não. Eu nunca indiquei e o partido nunca me procurou [para tal]. Eu gostaria de entender que espaço é esse falado pelo Wanderley. Nunca tive e nunca procurei.

VERBO – Falou que o sr. sempre teve espaço para disputar a eleição que quis – vereador, deputado federal.
Macário – Até aí tudo bem. [Mas] Qualquer partido vai dar legenda a uma liderança igual a mim. E me tornei uma liderança não por causa do PT, não foi a sigla que construiu a liderança que sou hoje na cidade. Fui eu. Foram meus amigos, foram as pessoas que acreditam em mim, presidentes de associações de bairro, pessoas que têm trabalho na igreja, na comunidade. Eles passaram a me conhecer, me admirar e começaram a me dar credibilidade. O fato de o PT ter me dado legenda não quer dizer que me fez um favor, repito, qualquer partido na atual conjuntura me daria legenda. Não foi só o PSDB, outros partidos estavam me chamando [para filiação]. Wanderley fez também uma fala infeliz, como se o PT tivesse me proporcionado alguma coisa. Qualquer legenda vai lançar candidato uma liderança do meu porte.

VERBO – O sr. se sentia hostilizado no PT?
Macário – Na reta final, eu me senti menosprezado pelos companheiros. Eu colocava propostas nas reuniões e não eram acatadas. Era destrato também, falta de respeito, de consideração. Isso me levou à desfiliação do PT. Não só eu, outros também, por exemplo, o Wilson [Antônio]. Gente do PT falou: “Ele foi e arrastou o Wilson”. Eu não arrastei, eu conheci o Wilson há 12 anos no PT. Ele passou a me conhecer melhor, a minha família – eu vou à casa dele, ele vem à minha –, a minha transparência. Ele conheceu a minha vida de verdade e se aproximou de mim, apostou no meu trabalho, no projeto, e [do qual] inclusive ele faz parte.

VERBO – O sr. mudou de partido por causa do tratamento que tinha no PT ou pela conversa com o prefeito Fernando Fernandes para ir ao PSDB?
Macário – Juntou a fome com a vontade de comer, o espaço minguando no PT e a atual situação do país me levaram a sair do partido. Quando você gosta de transparência, quer estar num lugar que tenha ética, onde seja valorizado. Eu fiquei no PT estes 12 anos e não me senti protegido. Eu me senti um filho desgarrado da mãe, estava num grupo do PT em que ele próprio me via com outros olhos, tipo: Macário chegou aqui, furou a fila, passou na frente e agora quer ficar na janela. Fui vereador, presidente da Câmara, e houve a proposta de ser candidato a prefeito na sucessão de Evilásio. [Antes da escolha de Aprígio como candidato a prefeito da situação] Evilásio ainda insistiu com o [então] presidente Gerson [Tavares] e com o próprio Irineu [Casemiro, líder histórico do partido] para que lançassem meu nome. Eles não aceitaram. É fato, a menos que eles não tenham palavra. Fernando Fernandes fez a proposta para ser vice dele. Eu me tornei uma liderança que tinha aparecido do nada e fui crescendo politicamente. Por quê?

VERBO – O sr. cogitou aceitar ser vice de Fernando?
Macário – Não. Eu era vereador e presidente do PT [quis dizer da Câmara], a gente tinha que manter a ética. E seu eu fosse para outro partido, além de tudo, poderia perder o mandato de vereador. Também como presidente [da Câmara], eu não poderia pensar em mim, tinha que pensar na instituição, na cidade, quando a gente está à frente de uma instituição, está acima de qualquer projeto da gente. Talvez se eu pensasse assim, teria aceitado. Quero agradecer ao prefeito Fernando Fernandes por ter me feito o convite. Costumo dizer que quem tem responsabilidade não tem que olhar para as vantagens, e sim para o compromisso que assumiu.

VERBO – O sr. aproveitou o momento em que pesam denúncias de corrupção contra o governo federal, comandado pelo PT, para ir para o PSDB?
Macário – Não. Como falei, os eleitores têm que votar em pessoas, não em sigla partidária. Quando você é um cidadão de bem e não tem nada que o desabone, não vão te julgar pelo ato que outro cometeu, mas pela pessoa que você é.

VERBO – Mas como será seu posicionamento político em relação à presidente Dilma [Rousseff] e ao ex-presidente Lula estando agora no PSDB? O sr. subiu no palanque de Dilma em comício no Campo Limpo [em 2014 durante a campanha] e posou recentemente para foto com Lula.
Macário – Veja bem, fui candidato a deputado federal pelo PT, não tinha como me afastar, me esconder e falar que eu não estava no PT. Tinha material [de campanha] junto com a presidente Dilma, com foto com o ex-presidente Lula. A gente não pode se esconder da verdade, o fato de eu ter saído candidato pelo PT e subido no palanque com a presidente Dilma, e agora eu ter ido para o PSDB, não me desabona, e nem a ela. Infelizmente, ela foi infeliz na reeleição dela, no mandato dela com todo esse escândalo que apareceu envolvendo pessoas ligadas ao PT.

VERBO – Ela tem responsabilidade pela corrupção na Petrobras?
Macário – A responsabilidade é de quem praticou o ato. Quando você se torna prefeito, governador ou presidente da República, faz escolha de pessoas e nomeia, mas a responsabilidade é de quem assume aquela pasta. Agora, a população julga também quem está no cargo, na linha de frente. Então, infelizmente, acaba respingando na presidente Dilma. Mas eu seria leviano se falasse que a Dilma tem participação, que é conivente. Jamais faria uma crítica dessa à presidente Dilma como ao ex-presidente Lula. Estaria sendo injusto comigo mesmo.

VERBO – Mas com qual sentimento o sr. ingressa no PSDB?
Macário – Com o sentimento que sempre tive, de compromisso, responsabilidade de dar a minha contribuição pela cidade. Vou trabalhar com todo o gás como trabalhei quando estava no PT, em qualquer atuação, vou me doar como me doei. E com transparência, jamais vou fazer alguma coisa para beneficiar a mim, meus amigos ou a minha própria família. O homem público tem que ser transparente e, acima de tudo, não esconder nada da sociedade.

Macário (de chapéu), com Eckstein atrás, em comício de Dilma, a quem não responsabiliza por corrupção

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