RÔMULO FERREIRA
Especial para o VERBO ONLINE
A vereadora Rosana Almeida (PMDB) desejou na sessão da Câmara de Embu das Artes na última quarta-feira (19) que o deputado estadual Geraldo Cruz (PT) reverta decisão de cassação do mandato na Assembleia, mas não esqueceu e disse, sem ser direta, que em 1997 o desafeto político, então vereador, “destruiu famílias” ao denunciar o pai Arthur da Ressaca (PSDB) e demais 17 parlamentares da Casa, além de 8 funcionários, por participação em congressos políticos.
Dois anos depois, em junho de 1999, o Judiciário afastou os 18 vereadores por irregularidades na ida a congressos, sempre a cidades turísticas. O único que ficou na Câmara foi Geraldo, que não viajara a congresso em 1997. Passados seis meses, os afastados retornaram, por liminar, ao cargo. Há dez anos, em 2005, a Justiça de Embu os condenou, mas cabia recurso. Até hoje a chamada “farra dos congressos”, de repercussão nacional, não foi julgado em definitivo.
Na ocasião da condenação, Arthur disse ao jornal “Atos” (do grupo do VERBO) que não era ilegal ir a congressos e que inclusive Geraldo foi em anos anteriores. Geraldo respondeu que “nunca disse que não se deve participar, […] o que trabalhei contra foi usar dinheiro público para passeio em nome de congresso” e descobriu que “alguns vereadores não iam, pegavam o dinheiro e recebiam certificado pelo correio, ou um assinava pelo outro lá”. Arthur disse ter ido a todos.
Sem ser explícita, Rosana criticou Geraldo por prejulgar pessoas de “bem” ao observar que “todo mundo tem direito a defesa” e a Justiça ainda não decidiu o caso. “Pessoas aqui de Embu foram julgadas como ladrão, corrupto, formador de quadrilha. Filhos de pessoas de bem, que nunca pegaram tostão de ninguém não podiam sair na rua, eram tachados de filho de bandido. [A denúncia] Destruiu famílias, e até hoje não tem uma condenação a essas pessoas”, disse.
“A gente sofreu muito na pele, e ontem [18] o deputado Geraldo Cruz teve também seu mandato comprometido, esteve na mídia novamente [teve cassação noticiada], em lado oposto. Espero que ele consiga reverter a situação se comprovado que não teve nenhum problema realmente com a Justiça, não quero para ele o que a gente passou, quem bate esquece, mas quem apanha não esquece jamais”, declarou Rosana, em tom de desagravo aos denunciados.
Ao elogiar o sucessor de Geraldo, também petista, pela gestão, a vereadora alfinetou ainda o deputado ao afirmar que “o prefeito Chico Brito chegou aonde chegou sem passar por cima de ninguém, sem derrubar ninguém”, atribuindo a denúncia apenas a Geraldo e não em nome do partido – um ano depois do afastamento na Câmara (2000), o próprio Geraldo foi eleito prefeito e o PT conseguiu chegar ao poder após quase duas décadas e ficará por pelo menos 16 anos.
O vereador Luiz do Depósito (PMDB) afirmou que, apesar das restrições da Justiça, “a propaganda é a alma da política” e “não vi razão nenhuma para isso [cassação]”. O vereador Doda Pinheiro (PT) elogiou que Rosana e Luiz do Depósito “tocaram no assunto com muito respeito” e fez defesa mais enfática do deputado. “O Tribunal Regional Eleitoral cassar Geraldo Cruz por colocar prestação de contas do mandato em veículo de comunicação é, a meu ver, absurdo”, disse.