RÔMULO FERREIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Em atitude inusitada para o cargo que ocupa e que mereceu reprovação do líder do prefeito, o presidente da Câmara de Embu das Artes, Ney Santos (PSC), chamou na sessão na quarta-feira, dia 1º, o vereador Edvânio Mendes (PT) de “infantil” por criticar o secretário de Serviços Urbanos, Nataniel Carvalho, o Natinha (Pros), e disse que o 1º-secretário, ao lado de quem senta na mesa-diretora, estava “rebelde” por “problema pessoal de não ser atendido” pelo governo.
Edvânio falava sobre a greve dos coletores de lixo, que atingiu Embu e mais de cem cidades, e criticava que teria faltado “plano B” por parte da secretaria de Natinha, o que fez muitas ruas ficarem sem a coleta domiciliar. “Hoje, eu dei uma circulada na cidade e fiquei estarrecido. Queria me conter e não tocar no tema, mas diante da gravidade não consigo calar. Na minha rua [o caminhão] não passou. Na rua Morumbi, no Santa Tereza, vi aquele montaréu de lixo”, reclamou.
Jefferson do Caminhão (PR) explicou que o caminhão de lixo é feito para o serviço e a pasta de Natinha não trabalha com veículo apropriado. “Ele parou todo o trabalho dele de zeladoria geral e colocou todas as equipes para coletar lixo. O rendimento não é o mesmo, não dava para recolher em 100% das ruas, mas não podemos bater no governo, dizer que não teve plano B, que o secretário não se preocupou”, afirmou. Em Embu a greve se encerrara naquele dia.
Ney observou que a crítica atingia a gestão Chico Brito (PT) – que passou a apoiar no fim do ano em meio à negociação para eleição para presidência da Câmara -, já que “é uma secretaria do nosso governo”. “Não sei por que hoje o Edvânio está rebelde, dando esse recado aqui, afetou todo o governo”, disse. Em aparte, Dra. Bete (Pros), mulher de Natinha, disse não ver todo “esse escândalo, acho que ele deve estar revoltado com outras coisas e está se apegando ao lixo”.
Foi a senha para o presidente subir o tom. “O vereador tem razão em dizer que a população sofreu com a greve, mas ela não foi criada pela prefeitura, sim pelo sindicato. É infantil da sua parte vir aqui hoje falar que o secretário não deu atenção, até porque teria que ser punido. E se procurar irregularidades e falta de atenção é o que mais vai achar. Mas não tentar, a partir de uma questão pessoal sua na secretaria, levar para o público uma coisa que é inverdade”, disse.
Depois só do terceiro pedido de aparte, Edvânio teve a palavra e reagiu. “Quando o sr. se dirigir a mim, não use um termo como esse, o sr. me chamar nesta Casa de Leis de infantil está me desrespeitando. Não tenho nada pessoal contra A ou B, não estou acusando [ninguém] de irresponsabilidade, não vi plano B e ponto. Não me chame de criança, que não sou, sei exatamente o que estou falando. Peço que se dirija à minha pessoa de forma mais educada”, disparou.
Ney cortou o vereador e voltou à carga. “O sr. está pegando todo o meu tempo, daqui a pouco não consigo falar mais”, censurou. “Como presidente desta Casa, uma instituição séria, não posso aceitar que traga seus problemas pessoais da rua e engane o povo que nos assiste. Falo com fatos, sei porque está revoltado. Teve plano B sim, não resolveu 100%, mas atendeu em parte, você não pode trazer um problema pessoal de que não foi atendido para o plenário”, avisou.
Edvânio preferiu calar. Em seguida, Ney moderou a fala, mas não recuou. “Se você se sentiu ofendido, tenho humildade de pedir desculpa, mas não posso aceitar aqui a política que não seja séria”, disse. Antes, disse não ser conveniente ter parabenizado Natinha e Edvânio vir e “tachar o secretário de não fazer um trabalho sério”. “As pessoas que estão nos assistindo vão achar o quê, quem está falando a verdade? Vamos acabar caindo no descrédito do povo”, queixou-se.
Logo depois, Ney alegou “problema pessoal” e se retirou antes do fim da sessão. Ele teria dito, porém, estar “passando mal” após o atrito em público, segundo um interlocutor. Ney não ouviu Clidão do Táxi (PC do B) questionar sua postura. “O sr. [Edvânio] está de parabéns por corrigi-lo, ele não podia corrigir a sua fala. Vou dizer a ele que está interferindo demais e dá no que deu. Talvez não conheça, não estudou essa parte [do regimento da Casa]”, disse o líder do governo.
Ney errou a mão no afã de defender o governo Chico Brito e Natinha, avaliaram lideranças. Ele se tornou presidente ao prometer a Chico apoio total ao candidato que lançar para enfrentar o desafeto Geraldo Cruz (PT), e Natinha seria o nome para prefeito, e Ney, o vice. Antes de se retirar, Ney desconversou sobre o entrevero. “Desculpa, esses debates calorosos são sempre para o bem de vocês [população], Edvânio é meu amigo, pega na minha mão, por favor”, disse.