Especial para o VERBO ONLINE, no Parque Pirajuçara, em Embu das Artes
Em um grande palco montado em frente à escola municipal Valdelice Prass, cerca de 80 atores, mais de 90% da própria comunidade local, amadores e quase na totalidade jovens, encenaram a 3ª Paixão de Cristo no Parque Pirajuçara, em Embu das Artes, na sexta-feira, dia 3. Bem dirigido, o elenco contou a história de sofrimento, morte e ressurreição de Jesus em interpretação com forte carga dramática e ar épico que emocionou o público de cerca de 5 mil pessoas.
Em encenação que durou duas horas e meia, o grupo apresentou mais de 20 cenas, as recorrentes na reconstituição da paixão do filho de Deus, como a tentação no deserto, a santa ceia, a prisão de Jesus, o sonho de Claudia Prócula e a entrega de Cristo a Pilatos, a via-crúcis, mas também passagens menos comuns, como a expulsão dos vendedores do templo e a morte de João Batista, com a cabeça apresentada em uma bandeja, que impressionou os espectadores.
A flagelação de Jesus ingressou no meio da multidão, tomou a avenida Aimará e contornou pela rua da Paróquia Cristo Ressuscitado até de volta à praça do bairro, em cena com grande realismo que também impactou pessoas de várias idades. A dor de Maria diante do filho prestes a morrer na cruz e a crucificação deixaram várias gerações com os olhos em lágrimas. Depois, em túnica reluzente, Cristo ressuscitou, sob delírio coletivo – surgiu no alto do prédio da escola.
A encenação foi muito elogiada. “Emocionante, me arrancou lágrimas até”, disse Ivani Dias, 47, moradora do Jardim Magali, que compareceu “a convite” de amiga mãe de dois jovens no elenco. Familiares de atores estavam em peso na praça. “Acho interessante, reúne as famílias. E as pessoas não têm oportunidade de assistir teatro, quando tem esses eventos, é importante”, disse Andrea Corso, 39, do Santa Tereza, mãe de Gabriel, 14, que fez um apóstolo e soldado.
Sobre a cena de que mais gostou, Andrea não hesitou. “Ah, quando ele [Cristo] aparece lá em cima”, disse, ao abrir um sorriso. “Ensaiei essa cena só hoje [no dia]. E tive um sonho, de que uma menina caía do telhado. Fiquei assustado no ensaio, mas correu tudo bem”, disse o ator Douglas de Freitas, 22, que viveu o Cristo pela primeira vez. “Foi uma experiência incrível, acabo pegando traços do personagem. É um aprendizado profissional e pessoal”, explicou.
Douglas, que fez Herodes em 2013 na 1ª Paixão de Cristo no Parque Pirajuçara e João Batista em 2012 na 56ª Paixão em Taboão da Serra, foi um dos atores profissionais na encenação, ao lado de Cleuza Nascimento (que viveu Maria) e Mayara Brasil (Claudia). Nos papéis principais, ainda estiveram Cassiano Pinheiro (Herodes), Devaki Daslei (Pilatos), Márcia Leite (Herodíade), Dani Assis (Salomé), Maria Clara Pinheiro (Maria Madalena) e Jefferson Leite (João Batista).
Encerrada a encenação, o diretor Luiz Domingues, 53, teve o nome gritado pelo elenco. “Tive a chance de vivenciar por quase três meses [de ensaio] uma relação de muita cumplicidade com todos os atores, produção, apoiadores. É algo que vai muito além do espetáculo teatral, é gratificante ver o público se identificar com o que passamos, e poder propiciar uma conversão de vida. Que a partir da Paixão de Cristo possamos ter um mundo melhor”, declarou ele.
O padre Lourivaldo Gonçalves, da paróquia local, agradeceu a Domingues pelo talento e por ter se dedicado aos jovens das famílias do bairro em prol de uma obra de evangelização. Ele saudou também o vereador Edvânio Mendes (PT) pelo inestimável apoio para realizar a 3ª Paixão. “Diante das dificuldades, mas com a comunidade vendo com bons olhos o projeto, com participação de quase 100% de jovens, mais uma vez me sinto com dever cumprido”, disse o vereador.