ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, no centro de Embu das Artes
O prefeito Chico Brito (PT) diz que a candidatura a deputado estadual que lançou e da qual foi o principal cabo eleitoral, do vereador João Leite (PT), cometeu um “erro estratégico”, de não priorizar a campanha nas cidades da região, e de disputar o eleitorado de Embu das Artes com um adversário “com perfil e histórico” do deputado estadual Geraldo Cruz, admite. Chico faz um balanço do resultado das eleições e nega que ocorrerá “demissão em massa” com a derrota na urnas do apadrinhado em entrevista – “dura” em muitos momentos – concedida no último dia 7 de novembro:
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VERBO ONLINE – Apoio de 10 dos 15 vereadores, participação pesada da máquina administrativa com funcionários da prefeitura por indicação política voltados à campanha, envolvimento de lideranças de todos os segmentos da cidade em favor da candidatura, e o seu candidato a deputado estadual, João Leite (PT), não se elegeu. Onde o sr., que o emplacou e foi o seu principal cabo eleitoral, errou? O que deu errado?
Chico Brito – Primeiro, agradeço pela possibilidade de dialogar com o VERBO ONLINE. Nenhuma eleição pode ser analisada fora de um determinado contexto. E a eleição de 2014 foi a mais difícil [por] que o PT já passou, com, no Estado de São Paulo, uma rejeição muito grande ao PT, pela conjuntura nacional… E aqui na nossa cidade o PT com duas candidaturas: a do Geraldo Cruz e a do João Leite. Na minha avaliação, no global o João Leite foi bem votado, 58.169 votos é uma votação expressiva, ficando como segundo suplente. Em 2006, a conjuntura no Brasil era extremamente favorável e na época também com apoio da máquina, e do prefeito também…
VERBO – Que era…
Chico – Geraldo, né?. Eu tive 52.854 votos. Eu avalio como um resultado extremamente positivo. Agora, qual foi o erro estratégico? Deveríamos ter investido mais aqui na região do consórcio, do Conisud [oito municípios]. Não estruturamos a campanha como deveríamos ter estruturado aqui na própria região, e acabamos indo para cidades mais distantes, como Guarulhos, Suzano, onde não tínhamos uma amarração política muito forte atrás de votos. O mesmo empenho, campanha estruturada, se nós tivéssemos organizado esse volume de campanha que organizamos em Guarulhos e Suzano aqui na própria região ou mesmo na zona sul de São Paulo, não teriam faltado os 1.900 votos para o João. E aqui dentro a disputa foi acirrada, né? Ter duas candidaturas do PT disputando um eleitorado de 147 mil votos [na verdade, 149 mil], e o João teve 14.400 votos [em Embu] [na verdade, 14.711, e 30 mil votos na capital. Mas o universo da capital é de milhões.
VERBO – O que faltou quando diz “estruturar melhor” a campanha na região do Conisud?
Chico – Faltou construir o apoio do João Leite com lideranças aqui da própria região. No lugar de ter ido buscar lideranças de Guarulhos, Suzano, por exemplo, deveríamos ter concentrado mais a campanha do João nesta própria região das oito cidades.
VERBO – O que foi a consumação do apoio do ex-vereador Elói em Taboão da Serra à candidatura de João Leite? Não foi estruturar a campanha na região?
Chico – Elói garantiu uma votação que considero boa para o João em Taboão da Serra, até porque foi constituído nos últimos 30 dias. No lugar de ter deixado de construir apoio mais consistente em Taboão da Serra nos últimos 30 dias, tivéssemos feito com muito mais tempo. Em Cotia, por exemplo, tínhamos um grupo pequeno de apoio. O erro estratégico foi esse, não termos concentrado a campanha na capital, na zona leste, onde tínhamos um grande grupo de apoio lá, pela relação política com o suplente de vereador Alessandro Guedes, que deu um resultado extremamente expressivo na zona leste. Juntando zona leste e o resto da capital, foram 30 mil votos.
VERBO – O sr. disse que o PT de Embu saiu fortalecido, numa rede social, mas o sr. no dia da apuração passou um pito no seu grupo político, dizendo que pediria a Deus a justiça de Salomão para não cometer injustiça, mas pediria ainda mais sabedoria para fazer justiça contra aqueles que o sr. considera que não trabalhou de fato pela eleição de João Leite. O sentimento é contrataste [contraditório], prefeito. Em que o PT saiu fortalecido se o sr. mesmo deu uma reprimenda no seu grupo de apoio?
Chico – É importante essa oportunidade, até para corrigir algumas informações, às vezes você [site] tem colocado coisas que não correspondem à minha fala, como nessa, por exemplo. Eu não repreendi ninguém nesse dia. Eu agradeci as pessoas, não pedi sabedoria para fazer justiça contra ninguém. Não usei essa palavra em nenhum momento.
VERBO – Cinco pessoas [ouvidas pela reportagem] entenderam assim.
Chico – Eu pedi sabedoria para não cometer injustiça política, e o que é cometer injustiça política? É você cobrar o resultado das pessoas de maneira injusta ou fazer a avaliação: “Olha, fulano não correspondeu ao que tinha se comprometido politicamente”. Pedi sabedoria para não fazer o que você acabou divulgando – o que as pessoas acabaram passando para você -, de que teria demissão em massa. O que eu falei naquele dia foi: “Agradeço a vocês pelo empenho, e peço sabedoria para não cometer injustiça contra ninguém”.
VERBO – Havia necessidade dessa manifestação?
Chico – Tinha muita gente do próprio grupo de apoio falando: “Fulano, beltrano, não correspondeu”. Eu disse: “Não vou fazer ‘caça às bruxas’, porque não é o caso. Eu tenho mais que agradecer a todos vocês”. Não vou fazer isso, tanto que isso não aconteceu, não acontecerá demissão em massa.
VERBO – O sr. demitiu alguém depois do resultado das eleições? Temos notícia de pelo menos 15 demissões.
Chico – Entrada e saída de comissionados tem todos os meses. A pessoa arruma emprego, vai para a iniciativa privada ou passa em concurso…
VERBO – Prefeito, o sr. fez demissões em decorrência do resultado das eleições?
Chico – Em decorrência do resultado das eleições, não demiti ninguém.
VERBO – Haverá demissões em decorrência do resultado das eleições?
Chico – Em decorrência do resultado das eleições, não ocorrerá nenhuma demissão. Repetindo: em decorrência do resultado das eleições não haverá demissão.
VERBO – Essa é a pergunta…
Chico – Essa pergunta é a mais importante. É óbvio que se o funcionário não está correspondendo, se o vereador indica alguém e ele próprio avalia que tem que fazer uma substituição, não tem nada a ver com a eleição. Quem for demitido, porventura venha sair da prefeitura no cargo de comissionado, quero deixar claro, não será por conta do resultado das eleições, até porque eu me sinto vitorioso com o resultado da eleição [votação] do João Leite: 58.169 votos.
VERBO – Em Embu das Artes, foram 14.711 votos [de João Leite]. Gostaria que o sr. analisasse esse número, considerado um fiasco até por lideranças do grupo que o sr. encabeça.
Chico – Uma coisa é o desejo, outra, a realidade como ela é. Se você analisar todas as candidaturas do PT, indistintamente, todas, [para] deputado estadual e federal, todos tiveram uma queda muito grande de votos. O [deputado federal José] Mentor, que teve mais de 130 mil votos na outra [eleição], caiu para 83 [mil]. [O deputado federal Carlos] Zarattini, que teve 250 mil, caiu para 130 [mil]. Isaac Reis, de Carapicuíba, que teve 100 mil, caiu para 47 [mil]. A eleição deve ser entendida dentro de uma conjuntura política. Nessa, extremamente adversa para o PT, em que todos em pleno exercício, sem exceção, tiveram uma queda brusca na sua votação, eu considero que 14 mil votos do João foram votos suados, foram uma votação que não deve ser menosprezada.
VERBO – O sr. disse que tinha uma previsão, abre aspas, com pé no chão, fecha aspas, de que João teria 35 mil votos em Embu e 100 mil no Estado. O que aconteceu para uma previsão, “com pé no chão”, ter sido tão discrepante da realidade?
Chico – Se eu tivesse falado para você que João Leite teria 50 mil votos, significaria que eu teria trabalhado para João Leite ter 50 mil votos. Se eu tivesse trabalhado para João Leite ter 50 mil votos no total, ele não teria 58 mil nem 14 mil no Embu. Entreviste qualquer deputado, de qualquer partido, e pergunte se ele trabalhou para ter a votação que teve. Todos vão afirmar que trabalharam para ter uma votação muito acima do resultado. O que acabou acontecendo é o resultado da própria conjuntura, dos erros e acertos da campanha. Trabalhamos com essa perspectiva, mas, infelizmente, a conjuntura não foi favorável para atingirmos aquele desejo anterior que era 35 mil votos no Embu e 100 mil no total. Mas era uma meta. Quando você faz uma campanha tem que estabelecer metá, e se ela não for alta, o resultado pode ficar muito abaixo.
VERBO – O sr, quando foi candidato a deputado estadual, teve – vou arredondar – 34 mil votos em Embu. O sr. reclamou que não teve o apoio que deveria ter tido do então prefeito Geraldo Cruz. O sr. teve 28,8% do total dos votos em Embu, e João Leite teve 12,9%. Diria que, no fim das contas, Geraldo investiu mais do que a campanha de agora [com o sr. prefeito]?
Chico – Não é questão de investir mais ou menos. Eu, em 2006, não disputei com nenhum ex-prefeito, não disputei com uma pessoa com o histórico do Geraldo, não tive um adversário como o João Leite teve, você tem que compreender também isso. Nesse contexto de disputa acirrada na cidade com um candidato a deputado estadual que é vereador no segundo mandato e o outro que é deputado hoje, foi prefeito duas vezes, vereador três vezes, você há de convir comigo que a disputa é diferenciada. A disputa que eu fiz em 2006 tinha um contexto e a que o João fez teve outro. A aceitação a candidaturas do PT em 2006 tinha um contexto e em 2014 teve outro. A campanha neste ano foi muito mais desfavorável para todo mundo, repito: todos tiveram queda na votação. E aí não se tinha um parâmetro para a candidatura do João, ele não é deputado, então, 14 mil votos é muito ou pouco? “Mas o parâmetro pode ser a sua candidatura em 2006”. Em 2006, o contexto no geral era mais favorável ao PT e não disputei com nenhuma liderança com o perfil que o João disputou.
VERBO – Qual o perfil daquele contra quem o seu candidato disputou? Gostaria que o sr. descrevesse. Estamos falando de Geraldo Cruz.
Chico – Só um comentário anterior. No dia do lançamento da candidatura do João Leite – espero que você se lembre –, eu disse o seguinte: não torço pela derrota do Geraldo. Eu torço para que os dois sejam eleitos…
VERBO – Prefeito, não é isso que as lideranças da cidade acham. Antes de vir para cá, um funcionário público disse o seguinte: “O sr., por favor, pergunte ao prefeito por que ele administra com tanto rancor”, se referindo ao grupo de Geraldo que o sr. mandou embora da prefeitura. Por que o sr. mandou embora todas as pessoas ligadas a Geraldo Cruz se diz que não agiu contra a candidatura dele?
Chico – Deixa eu te falar uma coisa: ainda temos no governo, e vão permanecer, pessoas ligadas à candidatura de Geraldo Cruz.
VERBO – São quantas pessoas? Representam quanto do universo que havia antes?
Chico – Olha, se você pegar… As pessoas foram demitidas naquele momento porque foram desrespeitosas com minha pessoa, num evento do PT. Aí não é questão de rancor, a questão não é essa.
VERBO – Está se referindo à vaia que o sr. [diz que] sofreu?
Chico – Isso, sim. Se as pessoas vaiaram o prefeito do PT, porque não concordam com o prefeito, com o governo. Se não concordam, no cargo de confiança, não teriam o por quê participar do governo.
VERBO – O sr. atribui a Geraldo Cruz?
Chico – Não, não atribuo. Inclusive conversei com o Geraldo depois disso. Falei: “Não acredito que você tenha participação nisso. Não acredito mesmo. Mas as pessoas foram desrespeitosas comigo”… Isso aí, para mim, é algo superado.
VERBO – Desculpe insistir, prefeito, mas por que o sr. não trocou as pessoas que o vaiaram? Se o sr. não tem nenhuma rusga política com Geraldo Cruz por que, depois de ter conversado com ele inclusive, não sugeriu, não teve a iniciativa de colocar outras do grupo do deputado?
Chico – Deixa eu dizer uma coisa: a questão de cargo comissionado é uma prerrogativa do prefeito, e eu não fui o único prefeito desta cidade que demitiu comissionados por motivo administrativo ou político. Em anos anteriores, por disputa política, comissionados também foram demitidos, agora, eu não estou entendendo…
VERBO – Em que governo?
Chico – Do próprio Geraldo. Teve demissão de comissionados.
VERBO – Com sua concordância.
Chico – Isso, com a minha concordância, eu era chefe de gabinete. Teve [demissão], e ninguém, ninguém, inclusive você, fez nenhum estranhamento, não perguntou por que estava demitindo, se tinha rancor, perseguição…
VERBO – O sr. está me dando oportunidade [de perguntar]: tinha rancor nas demissões feitas pelo governo Geraldo Cruz do qual o sr. fazia parte?
Chico – Não, não tinha, como não teve da minha parte também. Quero que você entenda: não é questão de rancor, não é questão pessoal, é uma questão política. Se você está em cargo de confiança no governo, tem que respeitar aquele governo. A partir do momento que tem atitudes como vaia, é porque discorda. Se discorda, não pode continuar no governo, tem que, voluntariamente, falar: “Estou saindo deste governo porque não concordo”. O que não pode é a pessoa continuar e desrespeitar o governo do qual faz parte.
VERBO – Qual o percentual de “geraldistas” que continuam no seu governo?
Chico – Não tenho esse percentual.
VERBO – Menos dez, mais?
Chico – Eu não tenho [o número], até porque tem muitas, muitas pessoas que entraram no governo na época do Geraldo e continuam. Tem muitas. Agora, o número exato não sei te precisar agora, não fiz o cálculo.
VERBO – A informação que temos é de que são três pessoas ligadas a Geraldo as únicas que sobraram, continuam no governo.
Chico – Não. Tem várias… Tem outras pessoas.
VERBO – O sr. não tem condições de dizer se são mais ou menos de dez pessoas, prefeito?
Chico – Eu acho… Com certeza, são mais de dez pessoas que foram colocadas naquela época e permanecem.
VERBO – O sr. mandou embora pessoas simples da comunidade que, embora fossem ligadas ao seu adversário político, Geraldo Cruz, segundo ela, estava de boa fé no seu governo e não participaram da vaia que sofreu, segundo o sr.
Chico – Segundo eu?
VERBO – É. Não estava lá, por isso que digo “segundo o sr.”
Chico – Ah sim…
VERBO – Por exemplo, o sr. chamou no gabinete a dona Valdete Calixto, líder da Pastoral da Criança, para compor o seu governo, e na hora de demitir o sr. mandou recado, mandou alguém dizer para ela que estava na rua, estava demitida do governo. Ela ficou “sentida” com a atitude do sr. Ela disse: “Eu nem estava lá, não vaiei o prefeito. Eu gostaria de pelo menos ser recebida por ele e que me explicasse a situação, da mesma forma que me tratou, com toda delicadeza, quando me chamou para que ajudasse o governo dele”. Gostaria que o sr. pudesse responder a ela.
Chico – Eu vou me dar a liberdade de respondê-la pessoalmente…
VERBO – Ela me pediu para que fizesse a pergunta.
Chico – Mas eu não vou responder a você. Eu vou responder à dona Valdete em uma oportunidade, não a você.
VERBO – Por quê?
Chico – Porque eu quero conversar com ela. Não quero que você seja o veículo desse diálogo com a dona Valdete. Me permita isso.