Denúncia de corrupção não motiva meu rompimento com Geraldo, garante Chico

Especial para o VERBO ONLINE

Chico, que não quis dizer motivo de briga com o hoje adversário Geraldo Cruz, durante entrevista ao VERBO

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

> Continuação da entrevista (parte 2/2) > LEIA AQUI PARTE INICIAL

VERBO – Lideranças aliadas ao sr. disseram a colaboradores que na votação do PED [eleições internas do PT] não era para votarem em candidato que o sr. não apoiasse, porque, mais cedo ou mais tarde, seriam mandadas embora. O sr. já avisava que se esses colaboradores não votassem no candidato do sr. sairiam do governo?
Chico – Primeiro, você tem que entender que o PT é o único partido que faz eleição direta para direção do partido, e o voto é secreto. Mesmo que alguém peça um absurdo desse, a pessoa não tem obrigação nenhuma de cumprir. A única coisa que eu disse que o meu candidato a presidente do partido era João Leite, e pedi apoio, como sempre ocorreu no PT, e no PT de Embu. Inclusive, quando fui candidato a presidente do PT, eu pedi apoio e obtive. Da mesma maneira, pedi apoio para o João Leite para presidente e obtivemos, o João teve uma votação expressiva. Quero deixar claro: nunca coloquei nenhuma imposição, até porque quem faz uma imposição dessa, no mínimo, não leva em conta que as pessoas não são obrigadas a votar em A ou B, o voto é secreto.

VERBO – O sr. sabe por que a dona Valdete, por exemplo, não votou? O nome dela não constava da lista.
Chico – Eu não sou da executiva do partido, não tomo conta das filiações. Em 2001, eu fiquei sem votar também, meu nome também não estava na lista. Esses problemas internos, burocráticos do PT…

VERBO – São problemas burocráticos?
Chico – São problemas burocráticos, como aconteceu comigo.

VERBO – Quem é o responsável por isso?
Chico – Quem é o responsável…?

VERBO – Por o nome de uma filiada que votaria não no seu candidato não estar na lista.
Chico – Você não pode ser maniqueísta a esse ponto, teve gente que declarou voto no João que também não pôde votar. A Cida Giannini [mulher do secretário de Governo, Paulo Giannini], que estava fazendo campanha para o João, também não pode votar. Não seja maniqueísta em achar que quando acontece para cá é maldade, quando acontece com o outro é bondade. Teve gente que apoiaria o Helton [Rodrigues, candidato a presidente derrotado] que ficou sem votar e teve gente que votaria no João que ficou sem votar. Só para esclarecer isso para sairmos desse maniqueísmo.

VERBO – Não se trata de maniqueísmo…
Chico – É maniqueísmo! Quando você afirma que o apoiador do adversário ficou sem votar –“Prefeito, [repetindo pergunta do repórter, mas com voz ranzinza], olha, isso é perseguição”. Então, a Cida foi o quê?

VERBO – O PT não veio a público dizer [isso], estou trazendo essa informação…
Chico – Por isso estou esclarecendo.

VERBO – Teria sido de bom tom o PT levantar essa questão, dizendo que houve problemas em relação aos filiados dos dois candidatos.
Chico – Isso.

VERBO – Tínhamos conhecimento em relação ao candidato do Geraldo, que era o seu candidato, aliás. O sr. me dá oportunidade de perguntar: por que o sr. mudou de candidato? A mesma dona Valdete participou de uma reunião em que o sr. falava que João Leite não tinha capacidade para presidir o Partido dos Trabalhadores. O sr. falou isso em público, o sr. ainda era aliado de Geraldo. O que o fez mudar de opinião?
Chico – As disputas internas no PT, não fui eu que inventei, elas existem antes de o PT se formar como partido, nos vários grupos que deram origem ao PT, e continuou. Quando fui candidato a presidente do PT, por exemplo, disputei com Paulo Oliveira e com o professor Toninho. As disputas são naturais. E pessoas que, teoricamente, eram do meu grupo de apoio fizeram campanha para o Toninho. Cada conjuntura é uma conjuntura. Até porque não decido sozinho, no PT não é assim, uma pessoa decide e todo mundo vai atrás. Tem disputa. A avaliação que eu fiz era que a candidatura que aglutinava o maior número de pessoas era a do João Leite, tanto é que tinha trê chapas, e o João foi aprovado pelas três chapas. Naquele momento, eu avaliei que a candidatura do João agregava mais pessoas no PT. Para corroborar isso, João Leite acabou tendo o maior número de votos naquela disputa do PED.

VERBO – A minha pergunta é: o sr.mudou de ideia? O sr. fez um discurso depreciativo ao João Leite. Não perguntei sobre disputas internas no PT, que são históricas. O sr. falou uma coisa sobre o João Leite e depois o escolheu para ser seu candidato.
Chico – Já tiveram posicionamento contrário a minha pessoa em alguns momentos. Depois, favoráveis…

VERBO – Prefeito, estou perguntando se o sr. mudou de opinião…
Chico – Mudei. É óbvio que mudei, se eu estava apoiando o Helton e passei a apoiar… À sua pergunta, a resposta é óbvia…

VERBO – É óbvia, mas o sr. demorou a dizer…
Chico – É óbvio que mudei de opinião, se eu apoiei o João Leite cheguei à conclusão de que a candidatura dele, construída por um grupo que agregava mais dentro do partido, teria condições de tocar o partido de maneira mais colegiada.

VERBO – A mudança de opinião do sr. veio junto com a divergência, o racha com Geraldo. Por que o sr. e ele brigaram politicamente?
Chico – As pessoas têm que entender que no PT não existe o que em outros partidos é racha, briga… No PT não é essa a leitura política que temos que fazer. Não existe racha, não existe briga. Existe uma disputa política, que é diferente de racha e de briga. Eu não vou ficar remoendo, até porque esse assunto eu já tratei com você em outras ocasiões.

VERBO – Mas o sr. não respondeu, por isso a pergunta de novo.
Chico – Não, respondi… Respondi! No dia do lançamento da candidatura [de João Leite]… Pega seu gravador e resgate aquela entrevista que eu dei na vitória [lançamento da candidatura] do João Leite.

VERBO – O sr. disse que não responderia sobre isso, prefeito.
Chico – Não, respondi…

VERBO – Não respondeu.
Chico – Desculpa, você tem razão. Não responderia naquele dia porque eu já tinha respondido pelo menos três vezes antes. Então, você tem essa resposta.

VERBO – Não foi resposta.
Chico – É resposta!

VERBO – O sr. não disse, objetivamente, por que o sr. e Geraldo Cruz romperam politicamente.
Chico – Você já perguntou para ele?

VERBO – Quando eu o entrevistar, vou perguntar. Agora, pergunto ao sr.
Chico – Eu me dou o direito de não responder.

VERBO – Lideranças políticas da cidade põem na conta do sr. ter rompido com Geraldo. E lideranças graúdas do PT dizem que foi um aposta arriscada demais lançar um candidato contra, abre aspas, que é um fundador do PT, uma pessoa que fez um bom governo, bem avaliado, e que é popular. Por que o sr. fez essa aposta arriscada?
Chico – Não apostei na derrota do Geraldo, quero reafirmar. Você não vai poder falar que estou dizendo isso depois do resultado da eleição, eu disse no lançamento da campanha do João.

VERBO – As pessoas estão dizendo isso, se o sr. tem dito, até hoje o sr. não as convenceu.
Chico – As pessoas são livres para pensarem o que quiserem, quem sou eu para coibir. E dependendo de quem vem o questionamento tem o viés da própria disputa. Não existe culpado A, culpado B, nem eu sou responsável por essa disputa, nem o Geraldo é.

VERBO – Quem é?
Chico – É uma conjuntura… Uma conjuntura política que levou neste momento a uma disputa interna que não é uma disputa minha e do Geraldo, tem outras pessoas envolvidas nessa disputa. Se alguém bota na minha conta o rompimento, eu digo que não me sinto responsável por esse rompimento, como também acredito que o Geraldo também não. Essa conjuntura teve esse encaminhamento. Não me sinto responsável.

VERBO – O sr. não…
Chico – Só mais uma pergunta que eu tenho uma outra reunião…

VERBO – Integrantes da equipe da campanha de João Leite, descrita na rua como batalhão, em contraposição ao grupo de Geraldo Cruz, que seria de cinco, dez pessoas… É o que as pessoas dizem na rua…
Chico – Esses “dizem” seu são ótimos. “Falaram”, “disseram”…

VERBO – …Algumas dessas lideranças apontavam [durante o encontro das duas caminhadas] para Geraldo e falavam: “Está morto”, “Não tem apoio”, “Está sozinho”. Faltou humildade ao grupo que o sr. encabeça?
Chico – Desconheço essa fala. Nas caminhadas e reuniões que fiz com a militância, particularmente a do PT, não vi nenhuma fala de arrogância nesse sentido. Eu vi as pessoas falando: “Vamos para a rua; eleição é sempre dura; é a eleição mais difícil que o PT no Brasil está enfrentando”. Desconheço essa fala.

VERBO – O que o sr. diria sobre a concentração da equipe de João Leite na véspera da eleição no Jardim Independência com fogos, o que foi entendido até por integrantes do grupo aliado ao sr. como provocação a Geraldo?
Chico – Não tenho detalhes. Não acredito que as pessoas tenham feito com essa intenção.

VERBO – O sr. entende então que o PT de Embu das Artes saiu fortalecido das urnas?
Chico – Eu continuo afirmando isso. No primeiro turno, a Dilma [Rousseff] ficou na frente do Aécio. Se dependesse de Embu, teria segundo turno entre [Alexandre] Padilha e [Geraldo] Alckmin. E o [Eduardo] Suplicy ganhou do [José] Serra aqui em Embu. E juntando as candidaturas petistas aqui o PT teve o maior número de votos para deputado estadual. No segundo turno, apesar de Aécio ter ganhado de Dilma ficamos acima da média do Estado e nacional. Avalio que o resultado foi positivo. A Dilma, do primeiro turno para o segundo, cresceu. A votação do Aécio no Estado de São Paulo é uma diferença muito grande, aqui o resultado não foi tão discrepante assim.

VERBO – Mas o fato é que Dilma perdeu [em Embu]. Em 2006, no segundo turno, para presidente, deu Lula [Luiz Inácio Lula da Silva]. Em 2010, deu Dilma. E agora deu Aécio, ainda que [por diferença] proporcionalmente menor do que no Estado.
Chico – Em 2010 eu já era prefeito.

VERBO – Agora o sr. também é prefeito.
Chico – Sim, mas se sua intenção é afirmar que agora eu sou prefeito, e a Dilma perdeu, quero lembrá-lo que em 2010 eu também era prefeito.

VERBO – Não é isso. O fato é que, apesar de ter tido sempre revés no Estado, em Embu os candidatos do PT [a presidente] sempre ganharam…
Chico – Mas agora a conjuntura foi outra, e na adversidade da atual conjuntura o nosso desempenho aqui foi superior ao resultado que o PT teve no Estado de São Paulo. Você não pode comparar duas eleições, cada eleição é uma conjuntura. Você compara duas eleições, mas também as conjunturas das duas, senão pode fazer uma avaliação descompensada. Tem que avaliar o resultado do PT no Embu a partir de um parâmetro, que é o resultado no Estado e no Brasil.

VERBO – Qual a diferença em relação a 2010, por exemplo?
Chico – O Lula estava deixando a presidência com 80% de aprovação, a economia não estava numa situação complicadíssima como estamos enfrentando agora, o mensalão em 2010 não teve o mesmo impacto que teve nesta eleição… A conjuntura política era extremamente diferente.

VERBO – Permita-me uma pergunta pontual. O sr., numa reunião com livre-nomeados, acho que no ano passado, se referiu ao jornal do [jornalista] Wagner Corrêa – a quem sempre se referiu como professor – como “jornaleco”. E na semana passada [final de outubro] o vereador João Leite se referiu também ao VERBO ONLINE como “jornaleco”, depois de ver uma notícia em que a manchete dizia que “PT de Chico não consegue a eleição de Dilma em Embu”…
Chico – Esse “PT de Chico” aí, realmente, é questionável, até porque o PT não é meu, nem na executiva eu estou nem no diretório. E o PT é PT do Chico, é PT do Geraldo, é PT do João Leite, é PT do [Paulo] Giannini…

VERBO – Na manchete não caberia tudo isso…
Chico – Mas não coloque só na minha conta os resultados da eleição.

VERBO – O sr. é o carro-chefe do partido, prefeito…
Chico – Não sou…

VERBO – O sr. é, é a maior liderança do seu partido, quer queira, quer não.
Chico – Carro-chefe é o presidente do PT e sua executiva, não é o prefeito, no PT é diferente.

VERBO – Essa é uma questão colateral, a pergunta é a seguinte: o sr. ou o PT tem dificuldade de lidar com veículos [de imprensa] que não seguem a mesma cartilha de cobertura jornalística de seu governo?
Chico – Não tenho, não tenho…

VERBO – O sr. fez uma crítica virulenta ao jornal do colega…
Chico – Naquele momento eu fiz uma crítica ao jornal porque fez toda uma matéria maniqueísta, não buscou as informações. Eu fui para a rua, fiz reunião com padre, fiz reunião com pastor, com os comissionados, as lideranças políticas para fazer uma prestação de contas sobre o que o jornal estava questionando. Um jornal, seja qual for, “Folha de S. Paulo”, “Estadão” ou qualquer jornal regional, se tem uma postura maniqueísta, não pode ter o respeito das pessoas.

VERBO – O sr. se referia a que tema?
Chico – O que saiu no jornal na época, a questão da Demop [empreiteira contratada para asfaltamento em Embu]. Tanto é que o Tribunal de Contas veio aqui, fez uma fiscalização em todas as obras, fez uma avaliação de todos os contratos, não teve uma única obra paga que não foi realizada. O contrato era de 2011, e expliquei para todo mundo, na época, que tinha uma defasagem de preço, ou seja, pelo preço de mercado, a prefeitura pagou a menor 27%. Mas eu não tenho dificuldade nenhuma [em lidar com a imprensa].

VERBO – É uma denúncia de corrupção no seu governo.
Chico – Poisé, mas as pessoas têm que ser muito responsáveis quando fazem denúncia ou comentário A ou B. Eu não tenho dificuldade nenhuma com crítica, leio o VERBO ONLINE, te encontrei naquele dia na caminhada do Padilha e falei: “Vamos marcar para a gente conversar”. Até para esclarecer essas coisas todas, para você não ficar só ouvindo as fontes.

VERBO – Não, o sr. disse que me enviaria um texto [para ser publicado]…
Chico – Eu não disse isso para você. Eu não disse. Eu disse: “Eu preciso conversar com você”. Você não deixou eu terminar e falou: “Não pode ser um texto”. Eu falei: “Vamos marcar uma entrevista”. Você lembra disso.

VERBO – O sr. disse que tinha um texto da Cristina [Santos, secretária de Comunicação] para me enviar, prefeito. Eu não falaria se o sr. não tivesse dito.
Chico – Eu não tenho, eu não tenho dificuldade nenhuma, não tenho a menor dificuldade. Te agradeço pela entrevista.

VERBO – Denúncia de corrupção é o verdadeiro motivo do racha entre o sr. e Geraldo?
Chico – Não, não. É bom perguntar. Não existe…

VERBO – Apuramos que Geraldo andou falando nas caminhadas dele que haveria irregularidades no seu governo, caso de corrupção, suspeitas pelo menos…
Chico – Da minha parte, a divergência política entre nós dois não tem nada a ver com esse assunto, e se ele afirmou isso, é um posicionamento dele que desconheço.

VERBO – E tem a ver com quê?
Chico – Já respondi isso 300 mil vezes para você. Muito obrigado pela atenção.

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