Fernando abre processo administrativo contra professora líder de grevistas

Especial para o VERBO ONLINE

RÔMULO FERREIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra

O prefeito Fernando Fernandes (PSDB) instaurou processo administrativo disciplinar para enquadrar a conduta da professora da rede municipal Sandra Fortes, diretora da Apeoesp Taboão da Serra e da Atraspacts (Associação dos Trabalhadores da Prefeitura, Autarquias e Câmara de Taboão) e uma das líderes da greve do funcionalismo neste ano. Portaria assinada pelo prefeito sobre o ato foi publicada na “Imprensa Oficial do Município” (nº 572) de 12 de setembro.

De acordo com o processo (nº 23.983/2014) aberto pelo prefeito, Fortes “supostamente teria infringido o contido no Artigo 17, incisos XV, XXII da Lei Complementar no 224/2010, e suposta prática de aliciamento de menores, valendo-se de sua condição funcional para lograr direta e indiretamente, qualquer proveito ou vantagem pessoal e de agir de forma omissiva ou comissiva de forma a comprometer a dignidade e o decoro da Administração Pública”.

Fernando Fernandes, que busca enquadramento disciplinar de Sandra Fortes durante greve do funcionalismo

Embates entre servidores e o prefeito vêm ocorrendo este ano em função de reposição salarial não concedida e de salários descontados para trabalhadores da assistência social, manutenção e saúde que aderiram à greve em junho. Para o comando do funcionalismo de Taboão, o processo administrativo aberto pelo prefeito é calunioso e nada mais é do que um “ato de retaliação aos grevistas e de perseguição às lideranças legítimas dos trabalhadores municipais”.

O movimento acusa os “donos do poder” – referência a funcionários livre-nomeados – de assediar moralmente os que têm coragem de denunciar o que chamam de injustiças praticadas pelo governo municipal. A Atraspactus afirma, em nota divulgada em sua página no Facebook, que acusar Fortes de buscar “vantagem pessoal” é indigno da conduta da professora e “é tentar calar a voz dos trabalhadores e trabalhadoras em sua luta por dignidade profissional”.

O PSTU atribui o “suposto aliciamento de menores” ao fato de alunos da escola onde a professora trabalha terem escrito “cartinhas” ao prefeito pedindo melhorias ao funcionalismo. “Fernando Fernandes e a ‘primeira dama’, deputada estadual Analice Fernandes (PSDB), costumam tirar fotos com centenas de crianças nas festas juninas das escolas, com objetivos eleitoreiros. Mas, quando as crianças defendem suas professoras, ele considera ‘aliciamento'”, reagiu.

O funcionalismo convocou assembleia nesta terça, dia 23, na Apeoesp no Taboão (centro), já que o prefeito “devolveu os descontos apenas para os trabalhadores da educação, que iniciaram a reposição”, mas o caso Fortes será pauta. “Vamos juntos decidir os rumos da nossa luta e mobilização, em defesa da companheira Sandra Fortes contra esse processo calunioso e difamatório. Pela retirada imediata do processo administrativo disciplinar. Lutar não é crime”, diz.

Fortes disse ao VERBO que terá a defesa feita pela Atraspacts e PSTU, partido ao qual é filiada, e não falará sobre o caso. “Não me manifestarei publicamente sobre esse processo ao qual responderei segundo os trâmites legais”, afirmou. A reportagem entrou em contato com o governo Fernando Fernandes, que – por meio da assessoria de comunicação – não quis comentar o caso, informando que só se pronunciará após o término do processo instaurado.

RECADO
Em 2 de agosto, Fernando indicou que tomaria alguma medida contra Fortes, revelou o VERBO. “Entendo que tenha sido uma greve política. Até porque aquela moça que era a grande líder, não sei o nome dela [Sandra Fortes – citam jornalistas]… Ela sempre diz que tem problema de fala, pede afastamento, readaptação, e na greve se mostrou com voz potente e constante”, declarou. Acrescentou que “na vida se tem que arcar com as consequências dos seus atos”.

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