ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Um dos fundadores do PT em Embu das Artes, o deputado estadual Geraldo Cruz afirmou que o colega Chico Brito, prefeito da cidade, burlou regra da escolha dos dirigentes do partido em novembro do ano passado e que a conduta irregular seria motivo para conseguir a anulação do PED (processo de eleições diretas) petista. Geraldo recorreu à direção estadual do PT para recomposição do diretório municipal e garantir vagas a apoiadores, mas optou por não expor o caso.
Ele fez a acusação ao comentar a própria deliberação tomada pelo partido em São Paulo. “Não tem nada demais essa decisão, o diretório estadual tentou cumprir a regra do PED. Não quero criar briga dentro do PT, se quisesse, eu anulava o PED, porque o Chico usou de um instrumento de comunicação que não podia usar. Mas não questionamos a atitude dele, eu questionei outras coisas”, afirmou Geraldo ao VERBO. “Ele pediu voto por mensagem eletrônica”, revelou adiante.
Geraldo rebateu que o grupo de Chico – ou do vereador João Leite, reeleito presidente, mas que pertencia a outra chapa – tenha oferecido mais vagas na direção do partido do que acabou obtendo com decisão do PT estadual, negou que tenha feito restrições a arco de alianças amplo e sobretudo imposto já o próprio nome como candidato do PT e da base aliada a prefeito em 2016. Ele também respondeu a entrevista do colega Paulo Giannini, secretário de Chico, ao VERBO.
Geraldo concedeu a entrevista no último dia 14 de maio. Naquela semana, Chico foi procurado na prefeitura. A secretária Cristina Santos (Comunicação) atendeu e disse que ele não falaria. Minutos depois, voltou a ligar: “Ele não está aqui, e não estou conseguindo falar. Isso diz respeito ao partido, o Executivo não se manifestará”. O VERBO chegou a insistir para que Chico, citado nominalmente pelo ex-aliado – a quem sucedeu no cargo -, pudesse se pronunciar, mas Cristina declinou.
> LEIA ENTREVISTA DE PAULO GIANNINI
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VERBO ONLINE – Geraldo, como recebe a decisão da direção estadual do partido para recomposição do diretório [PT de Embu das Artes]?
Geraldo Cruz – Com naturalidade, eu sabia que a direção estadual ia cumprir o regulamento. Só isso, não há nada de mais na decisão, muito pelo contrário, é normal. O que não é normal é o que o pessoal tinha feito, fora da norma do que foi estabelecido na eleição do PED.
VERBO – A quantas vagas seu grupo teria direito?
Geraldo – Esta é uma decisão complicada, não era o meu grupo, o nosso estava junto com o do Chico. Havia três chapas, a minha e do Chico estava junta numa só. A princípio, ele apoiava o mesmo candidato nosso [ex-secretário municipal Helton Rodrigues] e estávamos juntos.
VERBO – A chapa teria direito a quantas vagas?
Geraldo – Como a nossa chapa [com petistas que o apoiam] tinha gente dele, estava junto, o critério da estadual foi a proporcionalidade que o Helton teve. Vamos colocar nove nomes lá, e o pessoal do Chico, oito.
VERBO – Nove [de seu grupo] no diretório, certo?
Geraldo – No diretório. E dois na executiva. E o pessoal do Chico coloca oito no diretório e três na executiva – mas a executiva não decide nada sozinha. Não tem nada demais na decisão, o diretório estadual tentou cumprir a regra do PED. Não quero criar briga dentro do PT, se quisesse, eu anulava o PED, porque o Chico usou de um instrumento de comunicação que não podia usar. Mas não questionamos a atitude dele, eu questionei outras coisas.
VERBO – O quê?
Geraldo – Que eles não queriam fazer a composição, queriam fazer de um jeito, e não aceitamos, e entramos com recurso.
VERBO – Vocês queriam mais de 60% [dos postos] da direção…
Geraldo – Não queríamos 60%, queríamos o que tínhamos direito. Acho que, para não ficar brigando, a melhor coisa é ficar como o diretório estadual sugeriu.
VERBO – O que sugeriu é menos do que vocês queriam?
Geraldo – Nem é mais, nem menos, é dentro da possibilidade. De qualquer maneira, eles deram a vice-presidência e uma diretoria, a de cultura, para nós. Está bom.
VERBO – Somente?
Geraldo – Só. Você ainda queria mais?
VERBO – Pelo recurso [na realidade, pedido de consulta] que apresentou…
Geraldo – Não, o recurso era esse mesmo, eles não estavam aceitando fazer a discussão [para composição]. Nós os chamamos para discussão, tanto que até o presidente do partido [Emídio de Souza] esteve aqui numa ocasião para fazer a negociação. Eles não aceitaram, disseram que não tinha negociação. Na verdade, eles recusaram qualquer [proposta de] composição que fizemos. Agora, com a decisão do diretório, são obrigados a afastar nove deles, e entrarmos lá com o nosso pessoal.
VERBO – Mas que instrumento que ele [Chico] usou?
Geraldo – Ele pediu voto por mensagem telefônica.
VERBO – Sente-se vitorioso nessa disputa?
Geraldo – Não se trata de ser vitorioso ou não. O partido não tem dono, é de todos, deles e nosso. E estavam falando muita bobagem, e o nosso pessoal sempre quieto. A disputa interna é normal, o que não pode haver são essas bobagens que o pessoal estava falando aí. Não devem falar.
VERBO – Por exemplo?
Geraldo – Alguns companheiros deram entrevista falando algumas bobagens, mentiras. Essas coisas não podem, né?
VERBO – Que tipo de mentira.
Geraldo – Um monte aí, acho que foi o Paulo [Giannini] que deu entrevista que deu até dó de ler.
VERBO – Giannini falou que o sr. não aceitou um leque de alianças amplo.
Geraldo – [ri] Quem fez aliança ampla aqui para ganhar o governo foi eu, não foram eles.
VERBO – Ele disse que o sr. impôs o seu nome já para ser o candidato a prefeito em 2016.
Geraldo – Meu Deus do céu! Nem preciso fazer isso, não preciso fazer isso. Felizmente, graças a Deus, não há necessidade.
VERBO – Como assim?
Geraldo – Para que vou impor meu nome, para quê?
VERBO – Eles dizem que podem indicar outro nome.
Geraldo – Eles podem se o partido quiser e tiver. Eles não têm nem nome… Eles não tem nome como é que vão? Eles podem, todo mundo pode indicar quem quiser, ninguém está impedido de indicar.
VERBO – Eles não podem se dar ao luxo de deixar de indicá-lo?
Geraldo – Não sei. Sinceramente, não sei. Primeiro, não tinha nome [não me indiquei], não tem ninguém candidato ainda a prefeito. Segundo, sempre há uma fala na cidade pedindo que eu volte a ser prefeito, todo mundo ouve isso, você mesmo já ouviu isso um monte de vezes. Agora, não sou eu, não tem posição minha. O partido não tem dono, como alguém vai impor? Agora, estou discutindo a eleição deste ano, a de 2016 eu vou discutir no ano que vem, nunca falei de candidatura a prefeito, nunca coloquei nome nenhum para candidato a prefeito, este ou aquele.
VERBO – Disse que o grupo do PT que está no poder hoje deve essa posição a você?
Geraldo – Não disse isso para ninguém, mas posso lhe garantir que o PT chegou aonde chegou graças a um trabalho nosso, evidente que tem a mão de outras pessoas, mas toda a revelação da história, as questões colocadas na discussão sobre a campanha partiram de um trabalho que estamos fazendo desde a década de 80, não é de agora. Agora, cada um teve a sua contribuição, alguns contribuíram mais, outros, menos, e eu dei a minha parte. A minha contribuição, por sorte, foi no sentido de levar o PT a chegar ao governo na cidade e cuidar bem para o PT ficar muito tempo. Agora, cada um tem a sua parte, não dá para medir quem fez mais, quem fez menos, quem deixou de fazer.
VERBO – O PT teria chegado ao poder em Embu sem Geraldo Cruz?
Geraldo – Não sei, não posso falar isso. Não sei. Sei que na região somos os únicos que chegamos, em todo lugar [o PT] lançou candidato a deputado várias vezes, e só nós, aqui, conseguimos ser vitoriosos.
VERBO – Inclusive, prefeito, não?
Geraldo – Então, só conseguimos aqui, só em Embu. Onde conseguiu mais, tem outro lugar? Não tem. É isso. Não tenho que dizer se foi por causa de mim ou não, acho que é por causa do trabalho, de ter conseguido colocar um projeto correto na hora certa para a sociedade, assumir fazer um bom governo para continuar. É isso. Só isso.
VERBO – Giannini disse na entrevista ao VERBO ONLINE que o sr. é dissidência no partido.
Geraldo – Nem quero comentar o que o Giannini fala, acho que ele está meio atrapalhado, a gente vai relevar essa “atrapalhação” dele, não está muito normal, não. A gente não tem que ficar dando resposta para pessoa que está com a cabeça meio atrapalhada.
VERBO – É uma opinião dele.
Geraldo – Mas eu não quero comentar, ele está atrapalhado, né? O cara está falando bobagens. Ele vem falar em dissidência? Eu não sou dissidência, eu não saí do PT, nem rachei, pelo contrário, eu continuei no PT, trabalhando do mesmo jeito, sem falar nada, nem dele nem de ninguém. Estou fazendo o meu trabalho de sempre.
VERBO – Quem vai ser o vice-presidente do PT?
Geraldo – Vai ser… Rapaz, nem lembro agora quem será o vice-presidente. Deixa eu ver…
VERBO – Não acredito.
Geraldo – Acho que é a Ná [a ex-vereadora Maria Cleuza Gomes, ex-mulher de Geraldo].
VERBO – Acha?
Geraldo – É, acho. Acho não, é ela [ri]. Eu estava na dúvida porque a gente estava discutindo quem ia ser, tinha que colocar uma mulher lá no grupo dos nove, aí colocamos ela.
VERBO – E na secretaria da cultura [do PT]?
Geraldo – Vai ser o Erismar [dos Santos, ex-Secretaria de Cultura de Chico]. Mas eles devem, ou não sei se eles vão dar posse e quando. De qualquer maneira, das nossas indicações, são os dois para esses cargos da executiva.
VERBO – Mas é prevista a posse?
Geraldo – Tem que fazer a posse de novo, até então o que era não estava valendo, qualquer decisão que o outro [grupo] tomou não estava valendo porque estava irregular. Se não tivesse mexido, aí estaria legal, se mexeu porque estava irregular – ninguém vai mexer em uma coisa que está certa, vai? Eles vão ter que desocupar nove [vagas], então é uma nova posse. É para fazer as coisas certas, não ficar falando bobagem, ninguém é dono do PT, no PT todos os filiados têm o mesmo direito dentro do partido, não tem essa de um ser melhor que o outro.