ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
O líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) e ex-vereador Paulo Félix afirma que o tumulto na audiência pública para discutir alterações no Plano Diretor de Taboão da Serra, no sábado, dia 24, na escola municipal Oscar Ramos Arantes, na Vila Iase, foi causado por assessores diretos do prefeito Fernando Fernandes (PSDB), a quem acusa também de ser os autores da agressão que diz ter sofrido. “Houve dois tumultos, no segundo se perdeu o controle, quando eles me agrediram também. Quem comandou toda aquela cena de violência, barbárie, selvageria, pancadaria foram os livre-nomeados de Fernando Fernandes”, afirma Félix em entrevista concedida ao VERBO no próprio dia da confusão.
Fernando responsabilizou somente o MST ao afirmar que “algumas pessoas dentre a maioria presente foram ao local com o intuito de arrumar confusão, e não buscar solução ou entendimento”. Disse ainda que o tumulto foi contido “sem que mais nada de grava acontecesse” e que “é lamentável que algumas pessoas queiram se promover fazendo tumulto e bagunça”, em ataque a Félix. Contatado, o secretário de Segurança, Gerson Brito, acusado pelo ex-vereador de omissão por não deter os violentos, disse que estava entrando em elevador e que a ligação ia cair. A linha, de fato, foi interrompida, mas depois Brito não atendeu mais os chamados da reportagem. Assessores citados por Félix não foram localizados.
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VERBO ONLINE – Paulo Félix, poderia relatar o momento em que houve uma confusão em que estava no meio?
Paulo Félix – Não estava no meio da confusão. O que aconteceu foi o seguinte: chegamos lá na quadra, por volta de 800 pessoas do movimento, já tinha começado a audiência pública, e começaram a expor e explicar as alterações do projeto. Na hora em que foram dar a palavra para os participantes, uma integrante do movimento usou a palavra, tranquilo. Quando o segundo foi usar a palavra, falou alguma coisa a respeito da prefeitura. As pessoas que estavam atrás do som, postados ostensivamente ali perto da mesa dos trabalhos, todos livre-nomeados da prefeitura, e alguns à paisana que não sei quem era, mas entre eles Polaco, Doriana, a tropa de choque do Fernando, foram lá tentar tirar o microfone do menino que estava falando, e originou o primeiro tumulto. O pessoal que estava na arquibancada desceu para a quadra, a Guarda [Municipal] soltou spray de pimenta em cima. Os funcionários da prefeitura estavam agredindo as pessoas, e a Guarda ficou inerte, o secretário, presente, comandando a agressão contra as pessoas. Quando se conseguiu acalmar o primeiro tumulto, dois minutos depois o mesmo rapaz foi retomar a palavra, eles avançaram no microfone e o chutaram. Aí eu fui tentar segurar as pessoas, o nosso pessoal ia invadir a quadra, e também não deixar o rapaz ser agredido – eu nem sequer tinha usado a palavra. Aí o Doriana e a turma dele, a tropa de choque, me cercaram, e ele falou em alto e bom som: “Oh baianinho filho da puta, se você agitar aqui nós vamos matar você”. Bem alto! E me empurrou. Quando ele me empurrou, um outro assessor me chutou, e eu caí no chão, e continuaram me chutando. O pessoal do movimento se aproximou de mim e não permitiu que a agressão continuasse. Mas a pancadaria foi generalizada. Eu estava no chão, um dos chutes acertou meu joelho em que fiz cirurgia. A dor era muito intensa, fiquei ali alguns minutos até o pessoal me levantar e me carregar para fora. Houve dois tumultos, no segundo se perdeu o controle, quando eles me agrediram também. Quem comandou toda aquela cena de violência, barbárie, selvageria, pancadaria foram os livre-nomeados do prefeito Fernando Fernandes.
VERBO – Em que fase estava a audiência?
Félix – Logo no começo, estavam apresentando as 19 propostas de alteração.
VERBO – Integrantes do MST interferiram na condução da audiência?
Félix – Nosso pessoal aplaudia o que achava bom, vaiava o que achava ruim, tudo normal, manifestação que faz parte da democracia. Não interferiram.
VERBO – Representantes da prefeitura que estavam na organização ou em apoio à organização interferiram na fala de integrantes do MST?
Félix – O papel dos técnicos era expor as propostas e ceder a palavra para os participantes. Na hora em que cederam a palavra, quem interferiu foi a tropa de choque do prefeito. Eles deram a palavra, só que o pessoal não gostou do que o rapaz falou e foi para cima dele.
VERBO – O que ele falou?
Félix – Que tal proposta veio do gabinete do prefeito, de cima para baixo, não foi discutida com a população… Foi nessa linha. Mas era direito dele falar o que achava, não se pode controlar, as pessoas tinham dois minutos para falar, ele era responsável pelo que dissesse. Mas aí o pessoal foi lá tirar o microfone dele, o xingou, começou a dar pontapé nele. Havia uma guarda pretoriana lá, uma tropa de choque que tentou controlar o que as pessoas iam falar e quando não concordavam partiam para agressão.
VERBO – Pode repetir quem participou da agressão?
Félix – Quem me ameaçou de morte e me empurrou foi o Doriana. Quando caí no chão, alguns continuaram a me agredir, mas não consegui mais ver quem estava me chutando. E um dos que estavam agredindo acintosamente as pessoas era o Polaco. Impunemente! Aos olhos do secretário de Segurança, com a certeza da impunidade absoluta.
VERBO – Quantos GCMs estavam lá, qual foi a postura da Guarda?
Félix – A Guarda é para proteger a comunidade, sob ordem do comando. O comandante estava lá, o secretário de Segurança estava lá. Mas o secretário em nenhum momento deu ordem para conter as pessoas violentas que estavam espancando os munícipes. A Guarda tem um comando, mas o comando não acionou os GCMs para segurar e dar voz de prisão.
VERBO – A quem atribui essa postura?
Félix – Ao secretário de Segurança.
VERBO – Por quê?
Félix – Ele podia ter dado ordem lá para a Guarda deter os baderneiros, deter os violentos.
VERBO – Por que não fez? Qual sua opinião?
Félix – Acho estranho, por exemplo, a Polícia Militar não ter sido acionada. Mas acho que a Guarda não sentiu que podia agir, eram todos funcionários do alto escalão da prefeitura. Sem orientação do comando, ela não se sentiu autorizada a agir.
VERBO – Quem é o principal responsável pelo que aconteceu?
Félix – Os principais responsáveis são os assessores do prefeito que estavam lá, que ganham dinheiro público e que foram para a audiência com o claro intuito de intimidar e de praticar violência durante a audiência pública. Aquilo não foi uma audiência pública, foi uma arapuca pública que armaram. Convidaram o povo, o povo foi, e foi hostilizado, intimidado, espancado, humilhado. A audiência pública foi isso, uma arapuca pública montada pela prefeitura para espancar os munícipes da cidade.
VERBO – O alvo seria o MST?
Félix – O alvo era qualquer um que falasse qualquer coisa contra o governo municipal, qualquer um que fosse usar o microfone e discordasse das propostas do governo seria espancado da mesma forma. Acho que a atitude não é exclusividade contra o MST.
VERBO – Mas o sr. disse que nem chegou a usar a palavra.
Félix – Nem cheguei a usar a palavra. Exatamente. Na verdade, quando entrei [na quadra] e vi a pancadaria, fui tentar tirar o companheiro nosso que estava sendo espancado e, para minha surpresa – eu conheço todo esse povo -, logo estava cercado por eles, e o Doriana me ameaçando em alto e bom som. Ele usou essa expressão mesmo: “Baianinho filho da puta, se você agitar aqui eu vou matar você”. Foi essa expressão que usou, e é a que eu deixei [registrado] lá no boletim de ocorrência, com o qual, inclusive, vou pedir para abrir um inquérito de ameaça – realmente, a ameaça foi feita em tom de ódio, vinda de uma pessoa que estava disposta a qualquer coisa.
VERBO – O sr. chegou a falar alguma coisa que poderia ter sido visto como provocação?
Félix – Falei nada! Eu me vi cercado por 15, 20 pessoas, falar o quê? Nem falei no microfone, nem me posicionei, eles nem sabiam da minha opinião sobre as propostas que estavam lá. Não falei absolutamente nada, não deu tempo de falar nada, eles foram me empurrando, e ele [Doriana] deu um empurrão mais forte. Eu caí no chão e procurei me proteger com as mãos, achei que iam chutar meu rosto. Aí a confusão foi generalizada.
VERBO – Ainda assim acredita que não seria alvo?
Félix – Eu não me posicionei. Poderia ser um alvo se tivesse feito uma proposta contrária ou atacado o governo, mas nem isso eu fiz. O alvo, realmente, era o movimento, que eu represento, de certa forma, sou uma das lideranças do MST. Acho que o ódio era contra o movimento, não contra determinada pessoa.
VERBO – Isso não se deve a ter feitos duras críticas ao governo Fernando em outras áreas?
Félix – Mas a crítica deve ser aceita na democracia. Olha quanta gente critica a [presidente] Dilma [Rousseff], critica o [governador Geraldo] Alckmin, e nem por isso as pessoas são espancadas nas ruas.
VERBO – O governo Fernando entende a crítica como normal?
Félix – Hoje vimos claramente que a crítica não é bem aceita, vimos que tentam implantar, mais uma vez, o clima do terror, do medo, da intimidação para que as pessoas não se posicionem. Mas esse tempo já passou, né? Esse tempo do medo, da intimidação pela força é coisa do passado. Estou vendo aqui nas redes sociais que as pessoas estão discutindo, hoje o povo se posiciona, coloca as coisas em tempo real. O que aconteceu lá hoje [sábado] é mais uma página negra na história de Taboão da Serra, um dia triste, você vai lá para um debate, de ideias, o governo pode concordar ou não, assim como podemos concordar ou não também, tem faixa, anúncio na cidade convidando para o povo ir, e quando vai é tratado dessa forma.
VERBO – Que agressões, que ferimentos sofreu?
Félix – Primeiro, ameaça de morte. Depois, um empurrão forte, um chute, como falei, tenho um joelho operado, com platina. O cara chutou exatamente o meu joelho, quando eu estava no chão. Comecei a gritar, de dor mesmo, e se o pessoal não tivesse feito o círculo, eu estava apanhando até agora.
VERBO – Quais foram os ferimentos?
Félix – O mais grave, no joelho. Tenho escoriações na perna, mas mais grave foi no joelho, está bastante inchado. Vou ter que fazer ressonância, preciso saber como está. Só no meio da semana que vou ter condições de fazer isso.
VERBO – O prefeito Fernando tem responsabilidade na agressão que sofreu?
Félix – O prefeito tem responsabilidade quando manda a tropa de choque dele e não dá ordens de convivência pacífica. São todos cargos livre-nomeados, não é possível que esse pessoal aja sem orientação, como é que vai para uma audiência pública com mais de mil pessoas e se comporta como um bando? O prefeito tem responsabilidade na medida em que não orienta ou não coíbe esse tipo de atitude. Não fosse gente ligada diretamente ao gabinete do prefeito, poderíamos pensar de outra forma, mas do jeito que ocorreu, foi uma atitude deliberada de violência por parte do círculo mais próximo do prefeito.
VERBO – Fernando Fernandes publicou na página dele no Facebook, em um dos trechos, que “o encontro foi pedido pelo próprio movimento [MST]. Infelizmente, algumas pessoas dentre a maioria presente foram ao local com o intuito de arrumar confusão e não buscar solução ou entendimento, inclusive entoando refrões agressivos”. Como vê essa afirmação?
Félix – Em primeiro lugar, quem foi lá para arrumar confusão foram os assessores dele. Agora, “refrões agressivos”? São palavras, não foi dito nada de baixo calão, ninguém ofendeu ninguém. Agora, o movimento tem suas palavras de ordem, isso não é agredir ninguém. Não é possível que a censura vai se estabelecer agora sobre o que as pessoas falam, é inadmissível, como se vai controlar a multidão de aplaudir e vaiar? Quantas vaias eu tomei na minha vida, lá na Câmara Municipal? Você deve ter presenciado várias e várias que tomei. A vaia é o quê? Expressão da democracia. O prefeito não estava lá, ele está mal informado, quem o informou, com certeza, foram os próprios agressores, ele não estava no momento, está fazendo uma nota sobre o que não presenciou.
VERBO – Ainda assim ele deve ter sido informado por assessores mais diretos.
Félix – Os assessores mais diretos estavam envolvidos na violência. Falei do Doriana, do Polaco, os dois mais expressivos, que estavam lá diretamente no comando da violência. Não consigo nominar todos, porque nem eu conheço todos, conheço de vista, não de nome.
VERBO – Não inclui o secretário Gerson Brito.
Félix – Ele era a autoridade responsável pela segurança, poderia ter detido ou dado ordem de comando para segurar os violentos, que eram os assessores [do prefeito], mas ficou inerte, ficou passivo e permitiu que a violência acontecesse. Não estou isentando ele, não.
VERBO – O prefeito ainda diz: “Houve tumulto que foi rapidamente contido pela Guarda Municipal sem que nada mais grave acontecesse, mas é lamentável que algumas pessoas queiram se promover fazendo tumulto e bagunça. Da nossa parte, a prefeitura continuará atendendo e ouvindo os movimentos populares, mas não compactuará com a bagunça e a desordem”.
Félix – Mas a bagunça, a desordem que fez foi o pessoal dele! Eles que promoveram a arruaça, é isso. A Guarda soltou spray de pimenta para segurar o tumulto, pode até ter feito uso excessivo da força, mas não agrediu ninguém. Quem agrediu, quem bateu, quem chutou foram os assessores do prefeito.
VERBO – Mas a ação da Guarda foi correta?
Félix – O comando que foi omisso e passivo, a Guarda não agiu com violência. Usou spray de pimenta para dispersar a multidão, depois a multidão voltou [para seus lugares], continuou [a audiência]. Um dos guardas me chamou e falou: “Sr. Paulo, vamos encerrar a audiência, a Guarda não tem condições de dar segurança nem mais garantir a ordem, é prudente encerrar a assembleia”.
VERBO – Em gravações que divulgaram, muitos militantes do MST protestaram contra o uso de gás de pimenta, inclusive falavam que passavam mal.
Félix – É verdade. Tinha lá mulheres, crianças, criança de colo, idosos, que entraram em pânico. Na hora do tumulto, a Guarda teve essa atitude. Não concordo em jogar gás de pimenta contra trabalhadores. Não foi na arquibancada – que estava lotada -, entre o povo, que aconteceu o tumulto, foi dentro da quadra onde estavam os funcionários da prefeitura, causado pelos assessores do prefeito.
VERBO – Como pôde acontecer o tumulto se semanas atrás o MST, com sua presença, e o prefeito entraram em acordo sobre as reivindicações do movimento?
Félix – Mas o acordo acabou não sendo cumprido pelo prefeito. O prefeito está retirando áreas de Zeis [zona especial de interesse social], por exemplo, na esquina da [estrada] Benedito Cesário [de Oliveira] com a [estrada] Kizaemon [Takeuti], temos área de Zeis lá, mas a proposta dele é mudar o zoneamento e colocar prédios de alto padrão. É área de Zeis lá no [terreno do] Paulo Colombo, a maior do município, onde o pessoal do MTST já ocupou duas vezes, e ele está colocando como zona de preservação ambiental. Só se for para preservar aqueles esqueletos de prédios abandonados, de zona de preservação ambiental não tem nada lá. Dos acordos que fizemos na conversa com o prefeito no gabinete dele, apenas um foi mantido, o restante foi tudo alterado, e não fomos consultados. O MST, não só nós, mas os outros movimentos populares, não vamos aceitar que se retire um milímetro de Zeis. A cidade tem que ter comércio, indústria, mas tem que ter zona de moradia para o povo pobre da cidade. É uma questão fundamental. As construtoras e empreiteiras estão avançando sobre as áreas de Zeis, para moradia popular, e não podemos permitir, é um retrocesso no Plano Diretor.
VERBO – Qual o sentimento pelo que foi tratado não ter sido atendido?
Félix – Indignação. Mais uma vez, fomos lá, assinamos um documento, em uma manifestação pacífica, e o acordo não está sendo cumprido. Mais uma vez, fomos lá, pacificamente, numa audiência pública, e o pessoal nosso é espancado, chutado. É revoltante e muito triste presenciar isso, achávamos que isso já estava sepultado na vida pública.
VERBO – O prefeito sugere que a audiência foi realizada, apesar do incidente. Ela foi legítima?
Félix – Lógico que não, a audiência não aconteceu, foram lidas as propostas, duas pessoas falaram, e nenhuma delas foi encaminhada para consulta popular. Não houve consulta popular.
VERBO – Quais serão as consequências?
Félix – Vamos procurar na Justiça nossos direitos, responsabilizar quem tem que ser responsabilizado pela violência. Vamos ter reuniões das coordenações dos movimentos de moradia e definir nossos próximos passos, quais medidas vamos tomar, no campo judicial e no campo institucional, para reagir em resposta aos atos que foram praticados lá.
VERBO – Que tipo de medidas?
Félix – Não sei. [Mas] A proposta será dentro da democracia, não somos movimento da violência, não defendemos queimar ônibus, depredar patrimônio, nossa linha nunca foi essa. Nossa linha é na defesa de direitos, dentro das instituições democráticas. E essa linha não será alterada, não vamos nos intimidar por ameaças. Todas que vierem, vamos registrar na delegacia, no fórum, onde for necessário, e vamos continuar a nossa caminhada. E não vamos descambar para a violência, que talvez seja o que eles queiram da nossa parte, mas não vamos fazer isso.
VERBO – A postura do movimento em relação ao governo municipal poderá ser outra, de maior combatividade?
Félix – Quem sou eu para responder pelo movimento? Na reunião da coordenação do MST, vamos ver o que cada um pensa e fala, e vamos tomar todas as medidas que acharmos mais corretas para defender os interesses do movimento. Mas já posso dizer que não vão nos jogar no gueto da violência. Vamos fazer prevalecer a democracia em Taboão, não vamos aceitar “gangsterismo. Vamos à luta.
VERBO – A relação de confiança com o governo, para entendimento, será a mesma?
Félix – Não sei. Sempre procuramos o entendimento. Sempre que fizemos passeata buscamos a mesa de negociação, nunca fugimos dela.
VERBO – O espírito será o mesmo, Paulo Félix?
Félix – Ih, não sei, há muita indignação do nosso pessoal, se abrir as redes sociais vai ver, está generalizada. Você não tem noção do tanto de mensagens, telefonemas que estou recebendo, de todo lugar, minha casa encheu de gente a tarde toda, quando cheguei do hospital [pronto-socorro Antena], estavam lá mais de 50 pessoas à minha espera. A onda de indignação, de solidariedade é muito forte, a sociedade não vai aceitar mais esse tipo de conduta, estamos em outro tempo. Realmente, neste momento, não quero responder nada em que eu fale individualmente, quero responder pelo coletivo, depois que a coordenação se reunir nesta terça-feira, estarei em condições de falar o que o MST vai fazer. Agora à noite [de sábado], recebi telefonema do Guilherme [Boulos, coordenador do MTST], vamos ter também uma reunião durante a semana para avaliar o que aconteceu e vamos dar, talvez, uma resposta conjunta.
VERBO – É possível alguma ação do MST na terça, quando acontece sessão da Câmara?
Félix – Não. Temos a garantia de que na terça-feira não vai ser votado nada do Plano Diretor. O presidente da Câmara nos garantiu. Mas na semana seguinte, depois de as coordenações se reunirem, vamos ter algum norte a seguir. Neste momento, estou muito abalado emocionante mesmo, nunca fui agredido, fiquei 26 anos na Câmara, nunca levei um tapa. Nunca! E olha de quanta luta participei. Hoje, quando fui agredido, fiquei atônito, quando caí no chão… Até agora não caiu a ficha para mim.
VERBO – O sr. disse que conhece as pessoas que o agrediram, inclusive fez campanha, em favor de sua mulher [que em 2012 foi candidata a vereadora], ao lado delas e do hoje prefeito Fernando Fernandes. O sr. esteve no grupo e hoje é vítima das mesmas pessoas?
Félix – É. O sentimento é de profunda decepção. Falei isso, voltei para lá [audiência, depois de ser carregado para fora da quadra], mesmo agredido, fui o último a falar no microfone, e disse: “Sinto muito por ter sido agredido por pessoas com quem estive junto, do mesmo lado. Não vamos aceitar esse tipo de coisa, chamar as pessoas para serem espancadas”. Falei tudo isso, o meu discurso foi de encerramento, e eles estavam todos lá. Falei também que não vamos nos intimidar, que o nosso caminho vai seguir independente da violência. Agora, a dor que se sente não é física, é uma dor moral, não é o meu joelho que está doendo, é a minha alma. Não é fácil, sou avô já, não tenho idade mais para passar por uma situação dessa, ver o ódio na cara da pessoa dizendo que você vai morrer.