ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, no Parque Assunção, em Taboão da Serra
A secretária de Saúde de Taboão da Serra, Raquel Zaicaner, garantiu ao VERBO, na quarta-feira dia 30, que 100% dos casos de dengue e mesmo os suspeitos notificados até a semana anterior foram visitados pelo Centro de Controle de Zoonoses, mas foi desmentida na hora, pelo menos, com relato sobre paciente em bairro na região do Pirajuçara que não recebeu equipe de mata-mosquito da prefeitura. Ela ainda hesitou em afirmar que a idosa com suspeita da doença que teve a situação revelada pelo programa “Brasil Urgente” (Band) foi visitada, mesmo após a repercussão pública. Procurada, a filha da paciente afirmou que a visita não ocorreu. “Esse povo me cansa”, desabafou a vendedora Roberta Corvino. Com a demora na ação de combate, o Aedes-aegypti pode ter se proliferado e mais pessoas, se contaminado onde a moradora reside, no Parque Pinheiros, um dos bairros com quadro crítico de infestação.
Na ocasião, Raquel informou que Taboão tinha até então 54 casos confirmados de dengue, dos quais 43 autóctones (contraídos no município), entre inicialmente 342 suspeitos, mas que 18 tinham sido descartados e 270 estavam com análise em andamento. Com o quadro, a situação do município era de “atenção”. “Nunca chegamos a surto. Para qualquer município do mundo ter um surto, precisa ter 100 casos autóctones confirmados para cada 100 mil habitantes. Precisaríamos ter 252 casos autóctones para termos surto de dengue”, disse na sequência de entrevista exclusiva, da qual participaram também o coordenador da Vigilância Epidemiológica, Milton Parron, e a diretora técnica da secretaria Flavia Barros. Com a demora da sorologia, além de 15 dias, e notificação falha, o número, porém, provavelmente já é maior. Procurada, a prefeitura não informou balanço atualizado até o fechamento deste texto.
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VERBO – Em quanto tempo o exame de dengue deve ficar pronto?
Raquel Zaicaner – Normalmente, fica pronto em 15 dias. Normalmente. Eu gostaria que você me ajudasse a explicar isto. Para que serve fazer sorologia [de imediato] se só posso colher no sexto dia de sintomas?
VERBO – Por que 15 dias, dra., não pode ser mais rápido? A pessoa precisa saber.
Raquel – A pessoa quer saber! Em termos de saúde, a pessoa quer saber, e acho que é um direito dela saber.
VERBO – Vamos atender o direito dela.
Raquel – Então, enquanto quer saber e é um direito dela saber, vai aguardar o tempo do procedimento do exame. Por quê? Há uma metodologia, há exames que são certificados pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde que podem ser levados em conta e há outros que não podem ser considerados, mesmo que [este] dê positivo você só vai dizer bobagem para o paciente, ele vai ficar contente, mas não pode ser considerado em saúde pública. Estou querendo comprar um kit rápido de [exame de] dengue, custa R$ 20 – para comprar, tenho que fazer no mínimo uma carta-convite. E não tem quem entregue em menos de 15 dias.
VERBO – Não há exame certificado com entrega em menos de 15 dias?
Raquel – Não foi isso que falei.
VERBO – Estou perguntando para a sra.
Raquel – Não, não vem com pegadinha para mim, não.
VERBO – Estou perguntando, dra.
Raquel – Eu lhe disse o seguinte: existem exames que são certificados, têm uma metodologia, e têm que ser feitos num laboratório oficial, que recebe exames [coleta de material] do Estado todo, com prazo para ser executado, e que costumamos receber o resultado em até 15 dias. Ponto. O outro assunto é o teste rápido para dengue, porque na hora do desespero se fica querendo soluções milagrosas. Teste rápido para dengue, existem vários, três no mercado. Certificados pelo ministério, em que posso considerar o resultado, só tem um, os outros dois não são reconhecidos pelo ministério como aptos a serem usados.
Milton Parron – Porque a margem de erro é grande.
Raquel – Estamos trabalhando, respeitando o direito de cada um saber se o seu exame deu positivo ou não. Mas, independente do exame, estamos tratando todos os casos como se fossem positivos, quando se tem suspeita da dengue, não se vai deixar que se alastre, você tem medidas a serem feitas: verifica a casa, o entorno, faz o histórico para identificar aonde a pessoa foi, se pegou em outro canto ou se contaminou no próprio município, uma investigação epidemiológica. Você atende a pessoa que está com sintomas que podem ser dengue ou qualquer outra virose – a dengue é uma virose -, vê se está com chance de sangrar ou não, e aí se faz um hemograma. O hemograma dá pistas que levam a pensar se seria dengue ou não e se tem possibilidade de se complicar ou não. Ele não me diz: “É dengue”. Mas diz que tem toda a cara de ser dengue, pode ser ou não. Com o hemograma, você vê as plaquetas. As plaquetas respondem pela coagulação sanguínea. Se a plaqueta está normal, legal, não está tendo risco de sangramento. Se está baixa, vamos ficar de olho, é um sinal de alerta. Cada nível de plaquetas indica o que devo fazer. Um nível de plaquetas pede que você só oriente o paciente a voltar no dia seguinte ou dois dias depois para repetir o exame. Outro nível de plaquetas pede que você o interne, deixando em observação, hidratando, independente de saber se é dengue ou não, e tem nível de plaquetas que indica fazer transfusão.
VERBO – Quais são os patamares de protocolo?
Raquel – Abaixo de 30 mil plaquetas, se interna o paciente para fazer transfusão. Isso tudo estamos fazendo, fizemos um alerta geral para todos os serviços de saúde nossos, para todos os médicos, para enfermagem, para os serviços privados próximos que atendem mais a nossa população, visitamos o Family, o Leforte [hospitais], levamos todo o material da dengue, o fluxograma de atendimento ao paciente com dengue.
Parron – A dengue tem se comportado de forma diferente, se comparamos com anos anteriores, inicialmente era uma doença que falávamos de verão, que aparecia só nos meses quentes. Ela tem migrado, praticamente temos dengue distribuída durante o ano, só que tem picos exatamente nestes períodos mais quentes.
Raquel – Todas as doenças atualmente dão no ano inteiro, e tem épocas em que são piores. Por exemplo, no inverno, teremos gripes e pneumonias, mas que continuarão a ocorrer o ano inteiro.
VERBO – A incidência neste ano tem uma característica peculiar? No ano passado, foram quantos casos?
Parron – Neste ano tivemos aumento, na realidade, no Estado todo, basta observarmos a grande epidemia em Campinas, Mairiporã, em São Paulo, no Butantã. Temos ciclos que variam de três a quatro anos [com esse quadro]. O que está acontecendo era absolutamente esperado. O que precisamos fazer é trabalhar o ano todo para minimizar essa possibilidade.
Raquel – O que é bacana é que vai sair a vacina para dengue, em dois anos, vai sair. Ontem [terça-feira dia 29], eu estava com o pessoal da Sucen [Superintendência de Controle de Endemias]. Ela [órgão] dá uma assessoria técnica para nós, até para ver se nosso trabalho é capaz de dar conta, e só temos recebido parabéns deles. E eles me contaram a boa notícia [sobre a vacina]. Eu falei: estou cansada de todo ano ficar discutindo se carpiu ou não o córrego, se a dona de casa deixou ou não lixo no quintal, até porque na Grande São Paulo a maioria das casas é de laje. Você já subiu em laje?
VERBO – Geralmente, tem água empossada.
Raquel – Nenhuma laje é lisinha, qualquer ondulação já guarda água. Ou vamos obrigar todo mundo a ter telhado com inclinação de tantos graus ou estamos perdidos. Há muitos anos se discute fazer anticoncepcional para mosquito, é o mosquito-fêmea que inocula o vírus nas pessoas. Mas vamos desenvolver a vacina da dengue – até o motorista da Sucen é uma das cobaias da vacina. Estou super feliz, isso tem que acontecer, senão todo ano você vai vir me perguntar sobre a dengue.
VERBO – Secretária, enquanto não temos a vacina, que trabalho a secretaria vem fazendo contra a dengue?
Raquel – Quero deixar claro que estamos tratando todos os casos como se fossem confirmados.
VERBO – Na prática, o que está sendo feito?
Raquel – Primeiro, qualquer pronto-socorro da região, qualquer serviço de saúde que atender uma pessoa com suspeita de dengue é obrigado a notificar a Vigilância Epidemiológica [da prefeitura]. E temos pedido que façam a notificação rápido, a partir do momento que o paciente falou que está com febre alta, súbita, com dor atrás dos olhos, ou alguém suspeitou que seja dengue, é obrigado a fazer a notificação. Distribuímos a todos [os serviços] o número de telefone, de fax, e-mail, para fazer notificação rápida. Ao receber a notificação, a Vigilância Epidemiológica, na mesma hora, envia para a Zoonoses [Centro de Controle de Zoonoses], que faz o trabalho de campo, vai na casa onde aconteceu o caso, há uma padronização [de verificação] da casa e do entorno.
Parron – Engloba o quarteirão, [a Zoonoses visita] os três [domicílios] da frente, dois do lado e três para trás.
VERBO – Há 342 casos suspeitos.
Raquel – Já visitamos todos.
VEBO – Todos?
Raquel – Todos!
Parron – Todos.
Raquel – 100% visitados.
VERBO – Tem, pelo menos, um caso suspeito em um bairro que não foi visitado ainda.
Raquel – Pode ser que não tenha sido notificado para nós. O que estou dizendo é que esses 342 chegaram para nós, porque tem gente que fala: “Minha mãe está com dengue”. Foi a algum canto [serviço]? “Não, não fui”. Se [o paciente] foi, e esse lugar nos notificou [secretaria], visitamos. Você vai deixar para nós esse endereço, que vamos lá, e vamos querer saber onde foi atendida, porque vamos cobrar de onde foi atendida a notificação. Vamos verificar no nosso sistema se foi notificada ou não, se não tiver sido, vamos cobrar porque não recebemos a notificação.
VERBO – A paciente esteve no PS Antena, foi atendida, encaminhada para UBS para fazer sorologia. Foi feita, ela aguarda o resultado, e já se passaram 15 dias e o bairro dela [Jardim Roberto] ainda não foi visitado [pela prefeitura].
Raquel – Um deles [PS ou UBS] deveria ter notificado.
VERBO – Li a prefeitura divulgar que até o momento 60% dos domicílios [de pessoas com suspeita ou confirmação de dengue] foram visitados.
Raquel – Não, já visitamos todos. Todos que a gente tem notificado. Eu quero saber por que [a paciente] não foi notificada. Vou verificar, primeiro se foi notificada; se foi, vou cobrar do dr. Milton e da Zoonoses por que não foi visitada a casa. [Dirigindo-se aos subordinados] Tinha que ter sido visitada, tinha que ter sido visitada, e o quarteirão inteiro.
Flávia Barros – A que UBS ela foi levada?
VERBO – Suiná.
Raquel – É, Jardim Roberto é [para ser atendida] lá. [A casa] tinha que ter recebido lavercida, para caso confirmado estamos fazendo aplicação de “malation” [inseticida], e agora já partimos para fazer [aplicar] o “malation” até nos [casos] suspeitos, tá? E estamos distribuindo cartazes, folhetos, orientação. Mas é aquela coisa, as pessoas também cansam dessa orientação nossa de que não pode deixar nem uma tampinha de refrigerante virada para cima, copinho de café que caiu na rua, uma casca de ovo, que pode guardar água limpa.
Parron – Temos um mapeamento do aumento do número de casos, claro que pode estar acontecendo um caso aqui, outro ali, mas fundamentalmente estão concentrados no Parque Pinheiros e Clementino, aquele miolo, mas fizemos de tal forma [o combate] que minimizamos essa possibilidade [de escalada da doença] [cita um morador que relatou que o centro não está tendo mais casos após visita da Zoonoses]. Estamos tentando cercar isso [foco].
Raquel – O adensamento aqui é muito grande, somos o segundo maior adensamento do Brasil, são 12 mil habitantes por km2. Aglomeração de gente, aglomeração de problemas, mas estamos trabalhando. Todo dia ele [Vigilância Epidemiológica] tem notificação nova, todo dia [a Zoonoses] sai a campo para cobrir as notificações.
VERBO – A paciente entrevista pelo programa “Brasil Urgente” teve a casa visitada?
Raquel – Deve ter sido. Eu espero que sim. Vou ficar muito nervosa se não foi.
Parron – Em nenhum momento [na reportagem] isso foi colocado.
VERBO – Como o caso apareceu na TV imaginei que providência tivesse tido tomada.
Raquel – As providências são de rotina, não fui correr atrás porque era uma reportagem ou não. Até porque a queixa da filha [da paciente] não é de que ninguém foi visitá-la na casa, a queixa era sobre sorologia [tempo de espera do resultado] da dengue.
VERBO – Mas a minha pergunta é essa, se a sra. diz que 100% foram visitados.
Raquel – Se estou dizendo que é 100%, eu fui…
VERBO – É isso, a sra. diz que foi?
Raquel – Então, posso verificar, posso conferir.
VERBO – [Caso do] Condomínio da estrada São Francisco, 1.850.
Raquel – É a piscina?
VERBO – É.
Raquel – Limpinha. [Diz a assessor] Chama [funcionária da secretaria] para mostrar foto de antes e depois.
Parron – Se você quiser o mapeamento, caso a caso…
VERBO – [A pergunta é porque] As pessoas [leitores] entraram em contato conosco, pedindo ajuda para a prefeitura resolver.
Raquel – Eu queria lhe deixar claro: para mim, não tem nenhum problema, nem para o prefeito, se eu tiver um caso de epidemia, ter que declarar que eu estou [o município] está sem situação de epidemia, de emergência.