ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
A 58ª Paixão de Cristo no centro de Taboão da Serra, nesta Sexta-feira Santa, dia 18, não deixou de inovar mesmo como um acontecimento histórico e tradicional da cidade ao inserir elementos atuais e maior carga dramática em personagens como o traidor Judas e impssionou o público com atuação e caracterização “reais” do elenco. Cerca de 20 mil pessoas assistiram à encenação que reuniu em torno de 80 atores, a maioria profissionais, e teve 3 horas e meia de duração.
O primeiro ato aconteceu em frente ao Parque das Hortênsias e retratou, entre outras passagens, Jesus com os apóstolos, a última ceia com os seguidores, delação de Iscariotes, condenação por Pilatos ao “lavar as mãos” e Cristo subjugado com coroa de espinhos. A sequência mostrou o calvário do filho de Deus ao carregar a cruz sob violentos açoites dos soldados, em um dos momentos mais emocionantes do drama, quando os espectadores podem ficar mais perto dos personagens.
A moradora do Jardim Salete Sheila Ribeiro, 31, caminhava com filho no colo e tinha o olhar fixo na via-crúcis de Cristo. “É muito bonito, mas é muito sofrimento”, disse. Entre açoites em Jesus, um soldado berrou para uma adolescente: “Você acredita neste homem? Sim, então será crucificada como ele!”. “Estou, sim, impressionada, é uma encenação muito comovente, parece real, toca muito o coração da gente”, disse Adriana Vasconcelos, 21, moradora do Sítio das Madres.
Entre as novidades, como antecipou o VERBO, a encenação reservou maior apelo emocional à despedida de Jesus de Maria, aos milagres divinos, mas a grande mudança foi a cena do enforcamento de Judas, que ocorreu após a crucificação de Cristo e com maior duração e mais dramática, com o personagem perturbado pela consciência ao ter presenciado o suplício e a morte do mestre. Também capoeiristas ajudaram a alegrar a “festa” de luxúria de Herodes com altos saltos.
No palácio do tirano rei, as “cuspidoras” de fogo em ação fizeram lembrar a atriz Natasha Marques, especialista na arte, que faria neste ano, porém, a Claudia Prócula (mulher de Pilatos), mas sofreu grave acidente de moto e se recupera após cirurgias. “Fizemos a Paixão em homenagem a uma amiga nossa, a Natasha, que está se recuperando, Deus é pai. Daqui a pouco, no ano que vem, ela estará com a gente de novo pulando e cantando”, disse a diretora de elenco Maira Galvão, 42.
O elenco estava também sob emoção à flor da pele por dedicar a 58ª Paixão ao ator Mário Pazini, marcante Cristo do espetáculo, morto no último dia 31. Uma apresentação com imagens do dramaturgo, entre outros ícones, contudo, não pôde ser exibida durante a encenação por problema em telão. A prefeitura foi criticada pela falha da empresa contratada. “Vamos fazer o balanço, conversar, chamar a atenção de quem precisa chamar “, falou um dos diretores da Paixão.
O prefeito Fernando Fernandes (PSDB) assistiu à dramatização desde o início e mencionou a falha, mas disse que o resultado no geral foi positivo. Ele ressaltou que a Paixão de Cristo faz parte do calendário de eventos da cidade e que o desejo é “que tudo dê certo, a gente fica muito apreensivo”. “Quando termina a celebração, a sensação é de alívio, de missão cumprida. Teve um telão que deu um probleminha no começo, mas no todo foi muito bem, gostei”, declarou.
Monsenhor Aguinaldo Carvalho, pároco do Santuário Santa Terezinha, destacou a mensagem do segundo dia do tríduo pascal. “Celebrar a Paixão é sempre novo e atual e um convite a todos nós a sermos pessoas melhores, buscando seguir o Evangelho, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo e estabelecer o reino de Deus entre a humanidade. É a nossa missão”, disse. Como se fosse o terceiro dia, a ressurreição de Cristo foi encenada e fechou a Paixão, com queima de fogos.
O ator Clayton Novais foi Jesus pela quarta vez e confirmou que não viverá mais o papel. “Estou transbordando de amor, é minha despedida do Cristo, não sei ainda o estado em que estou, só sei que dei o máximo de mim, sentimento é de dever cumprido”, disse. A aposentada Ana Lúcia Teixeira, 56, do Jardim Roberto, estava em êxtase. “Venho sempre e a cada ano fico mais maravilhada. Os meninos cada vez dão mais de si e fica cada vez mais bonito, todos estão de parabéns”, exaltou.