ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
O PT em Embu das Artes não está rachado e o grupo do deputado estadual e ex-prefeito Geraldo Cruz, em colisão com a nova direção, é uma “dissidência” do partido, afirma um dos fundadores e militantes históricos da sigla na cidade, Paulo Giannini. Em entrevista permeada de recados ao ex-aliado em forma de alfinetadas, como ao dizer que o PT precisa de uma liderança preocupada em “articular” as forças políticas aliadas e não que tenha só “um projeto pessoal”, o secretário de Governo do prefeito Chico Brito diz ainda que o candidato governista a prefeito em 2016 sairá do grupo que apoia o pré-candidato a deputado estadual João Leite e que poderá não ser do PT, em declaração ruidosa após garantidos 16 anos de hegemonia do partido no comando da única cidade que governou na região – e sem um nome de peso, fora Geraldo.
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VERBO ONLINE – O que representa a pré-candidatura do [vereador] João Leite para o PT e para Embu das Artes?
Paulo Giannini – Representa, definitivamente, o compromisso que o Partido dos Trabalhadores tem com a construção de políticas públicas positivas nesta cidade, e que há muito tempo já aprendemos que só conseguimos isso fortalecendo o arco de alianças, respeitando a política de alianças, nossos parceiros, porque o PT sozinho não consegue chegar a canto nenhum. E representa que vamos, a partir de agora, ter realmente um deputado que se preocupa em articular as forças política, as lideranças para que possamos avançar cada vez mais. O projeto tem que ser coletivo, tem que ser participativo, e não meramente um projeto pessoal e que valorize somente o indivíduo. É isso o recado principal da candidatura do João.
VERBO – Qual arco de partidos deve apoiar a futura candidatura do João Leite?
Giannini – A pré-candidatura de João Leite, obviamente, vai depender das convenções partidárias, que vão definir, oficialmente, quais os partidos que vão estar nesse arco de alianças no apoio ao [pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre] Padilha e também na coligação tanto majoritária quanto proporcional. Mas, pelos vários partidos aqui de Embu [presentes ao lançamento da pré-candidatura de João Leite], independente da efetivação, ele tem o respeito das lideranças de todos os partidos que aqui no município estão juntos. Isso é fundamental. Fortalece, inclusive o passo que a gente tem que dar posteriormente, porque a gente tem que pensar na política também posteriormente. O passo agora é fundamental: em 2014, eleição de João Leite deputado estadual. Vamos fortalecer a nossa votação para que depois a gente possa, em conjunto, ver o caminho que a gente vai fazer no futuro.
VERBO – Quantos partidos estão hoje na base do governo [Chico Brito]?
Giannini – Mantemos os 18 partidos que fizeram a coligação conosco.
VERBO – Qual o projeto em torno da coligação de João Leite? Ampliar o número de partidos?
Giannini – Pode ser. Temos que pensar em nunca restringir, diminuir, e não igual ao que a gente tem ouvido por aí, que três, quatro partidos bastariam. Não bastam. A visão que sempre temos que ter é de ampliar, quanto mais partidos estiverem juntos, pensando juntos, articulando juntos, é melhor, quem ganha com isso é a população do Embu.
VERBO – O PSC do pré-candidato a deputado Ney Santos também faz parte desse arco de alianças?
Giannini – Olha, o arco de alianças está aberto. Agora, neste momento, o vereador Ney Santos é candidato a deputado, pelo que a gente sabe, então, não vai fazer parte desse arco de alianças agora, ele tem um projeto próprio. Mas sempre é possível os partidos sentarem, conversarem. Já dizia um grande filósofo: você nunca está próximo demais que não possa bater e nunca distante demais que não possa juntar. O que comanda a política é isso, você nunca pode estar nem tão longe nem tão perto, tem que estar sempre na condição ideal para discutir e entender a conjuntura política e caminhar, trocar o passo.
VERBO – O sr. é um dos fundadores do PT de Embu, que vive uma situação inédita, terá dois candidatos a deputado estadual, o deputado Geraldo Cruz e João Leite. Como vê essa situação? Interfere na programação do partido nestas eleições?
Giannini – Não dá para dizer que não interfere, não se pode tapar o sol com a peneira. Quando se tem uma unidade, sempre é melhor. Agora, na política, principalmente num projeto que está evoluindo, crescendo, é natural que despontem novas lideranças, e você tem que aprender a conviver com isso. Geraldo é uma pessoa importante, contribuiu bastante, e vai fazer a campanha dele, tem todo o respeito nosso. E vai somar, tanto os votos dele como do João Leite vão vir para a legenda do PT, isso é fundamental. É uma soma que está acontecendo, mais uma soma do que divisão… Acho que divisão não tem, mas uma soma para a legenda do partido, pode fortalecer e muito.
VERBO – O fato é que o grupo que é majoritário no diretório está rachado com Geraldo. A candidatura de João Leite, apoiada pela imensa maioria do partido na cidade, é contraponto a Geraldo Cruz?
Giannini – Não, não acredito no contraponto. E não acredito no racha. Na realidade, o Geraldo representa um grupo dissidente dentro do Partido dos Trabalhadores, é bem claro isso. Não houve racha, tanto é que ficou demonstrado [no lançamento da pré-candidatura de João Leite] que o diretório em peso está fechado com esse projeto político, o governo está em peso fechado com essa proposta política, não tem essa divisão. É muito diferente, aí sim, de rachas que aconteceram em outras cidades em que o PT, realmente, se dividiu, o diretório ficou meio a meio, o governo ficou meio a meio. Aqui, não, não está acontecendo isso. E o Geraldo, infelizmente, não conseguiu ter o apoio agora [na eleição do diretório] como teve nos diretórios anteriores – saiu com apoio absoluto, fechado. Por erro estratégico, erro de leitura política, acabou, inclusive, antecipando as eleições de 2016, que é um erro crasso, um tiro no pé, você nunca pode fazer isso.
VERBO – Qual, exatamente, teria sido o erro de estratégia?
Giannini – Antecipar a eleição de 2016. Você não pode simplesmente falar: “Olha, eu quero voltar em 2016”. Porque tem uma ponte que você tem que atravessar primeiro, o ano de 2014, que é outra eleição, e precisa entender que cada coisa no seu tempo. E você não consegue definir com muitos anos antes, é aquela história que o [deputado] Ulisses Guimarães falava: política é como uma nuvem no céu; você olha, é um jacaré; baixou a cabeça, olhou, é um elefante. Você não pode antecipar a conjuntura política, tem que ter o pé no chão, e fazer a [discussão da] conjuntura política no tempo próprio.
VERBO – Esse racha ou dissidência pode atrapalhar ou comprometer a eleição municipal para o PT?
Giannini – Não acredito, conseguimos formar um grupo muito forte, muito coeso. Esse grupo é suprapartidário, é plural, está muito firme nessa discussão e, certamente, o candidato em 2016 vai sair desse grupo, um representante desse grupo que vai ser o candidato.
VERBO – O candidato será do PT?
Giannini – Pode ser.
VERBO – Pode não ser?
Giannini – Pode não ser, tá? Vai depender da discussão política que acontecer e da análise da conjuntura que a gente fizer, da leitura lá próximo de 2016.
VERBO – Isso seria histórico. O sr. está admitindo a possibilidade de que o PT venha a abrir mão da cabeça de chapa para 2016. O PT nunca fez essa concessão.
Giannini – Não compartilho desse pensamento, acho que a conjuntura sempre foi favorável ao nosso projeto político, tanto é que em 1996 deixamos de lançar uma candidatura própria e apoiamos o Nivaldo Orlandi. Muita gente não lembra disso, esquece. Com todas os problemas que tivemos com a candidatura do Orlandi, ficamos até o fim, firmes, a Graça [ex-vereadora Maria das Graças de Souza] era a nossa candidata [a vice] e foi mantida até o fim. Então, não é novidade.
VERBO – [Mas] O PT não estava no governo antes.
Giannini – Então, aí que é diferente. Quando você está no governo a discussão é outra. Quando você está na condução, para trocar de motorista, tem que pensar bem quem vai pilotar. Tem que ter competência, apoio, ser habilitado, você não vai entregar a direção na mão de uma pessoa desabilitada, tem que ter muito critério, ser mais criterioso. Por isso é importante pensar em uma pessoa de qualidades importantes para continuar a tocar esse projeto.
VERBO – Com base nesses critérios, quem do PT desponta como candidato a prefeito para 2016?
Giannini – Ainda é cedo para falar nisso. Como falei, nunca gosto de antecipar muito, política é muito dinâmica, tem que ter um certo cuidado para poder pensar e no momento certo apresentar. Nomes existem, graças a Deus tem nomes, mas vão ser colocados no momento certo.
Pergunta – O sr. imagina Geraldo Cruz fora do PT, vocês já discutiram sobre isso? […] Se o Geraldo conseguir se eleger e o João Leite, não, será vitória do Geraldo sobre a militância do PT?
Giannini – Não acredito na possibilidade da saída do Geraldo do PT, até pela história que ele tem dentro do partido. O Geraldo tem história no partido, a gente não pode negar, eu não nego, de forma alguma, eu acompanhei, faço parte dessa história também. O Geraldo Cruz está tendo uma leitura equivocada neste momento. Agora, política é um jogo, como o Brasil vai entrar agora na Copa para ganhar, mas, de repente, pode ser que não ganhe. É preciso apresentar o projeto, tem que convencer o eleitor, e o eleitorado tem que votar. Pode acontecer de o Geraldo se eleger e o João, não? Pode. Como pode acontecer os dois se elegerem, aí seria uma grande vitória, mais ainda, do Partido dos Trabalhadores, da militância, fortaleceria ainda mais o projeto. Eu vejo que é possível, não vejo como impossível. Tem mais dificuldades, o Geraldo terá mais dificuldades. Mas não vejo que ele vai tentar deixar o partido, conhecendo a história do Geraldo Cruz.
Pergunta – Com a máquina [a favor], é mais provável que João se eleja, ou o Geraldo, pelo passado dele, pela imagem que as pessoas têm dele?
Giannini – O Geraldo, no decorrer desses longos anos de militância, conseguiu adquirir um patrimônio político importante, ele tem uma votação [significativa], a gente sabe, não dá para negar. Agora, obviamente, quem tem o apoio que o João está tendo do governo – da máquina, como se diz – e dentro do partido, do arco de alianças e de grupos como o Casa Rosada, lá da zona leste [da capital], que é um apoio histórico e importante, isso aumenta em muito as chances dele. Também [aumenta] com o [deputado federal Carlos] Zarattini, na zona sul, já que o Rui Falcão, que foi a dobrada preferencial do Zarattini, não é mais candidato [para ser presidente nacional do PT], sobra também um pedaço importante para o João lá. Os dois [João e Geraldo] têm condições de ter uma votação expressiva.
VERBO – Parece inegável que a candidatura de oposição a Geraldo é um projeto do prefeito Chico Brito. Caso fracasse, o Chico pode deixar o PT?
Giannini – Não tem a mínima possibilidade. Primeiro, o apoio que o Chico está dando ao João nem perto passa pela ideia [se caracteriza como] de oposição ao Geraldo. Não é. Tanto que eles tentaram até agora, até pouquinho tempo, caminhar juntos, discutindo uma chapa [comum]. Não houve acordo, por conta de dois pontos principais de divergência. Um dos pontos era a política de alianças, o Geraldo acha que a política de alianças tem que ser restrita, e nós achamos, muito pelo contrário, que tem que ser ampla, aberta. E a outra [divergência] é que teria que ser novamente ele o candidato, quando nós achamos que não. Poderia até ser ele, mas [se deveria] esperar o momento correto para fazer a discussão, inclusive por que não novas lideranças? E quanto ao Chico, não há possibilidade [de ele deixar o partido], mesmo porque eu vejo uma perspectiva muito grande para ele… Eu conversava com o sr. Ricardo Zarattini, que é um antigo militante e profundo conhecedor do PT, e ele falou: certamente, o Chico está trilhando um caminho em que ele vai longe dentro do Partido dos Trabalhadores. Eu não tenho dúvida nenhuma disso. O futuro dirá.
VERBO – Que futuro?
Giannini – O Chico é muito competente tecnicamente, muito competente politicamente, e o PT, como qualquer outro setor, precisa de lideranças com a competência que ele tem. Certamente, vai ter outras tarefas. Eu não vejo o Chico voltando a disputar a prefeitura no Embu. Não vejo, de forma alguma.
VERBO – E vê o quê?
Giannini – Vejo o futuro dele dentro do partido, colaborando com o governo estadual [em administração petista].
VERBO – Como secretário?
Giannini – Podendo até ser secretário, claro, por que não? Estar no governo federal. Ele tem competência para isso. O Chico tem um caminho importante pela frente.
VERBO – Presumo que o sr. entenda que o Chico é bem diferente do Geraldo, tecnicamente.
Giannini – É. Cada um tem sua qualidade. O Geraldo tem uma competência política muito grande, é um companheiro com militância histórica importante. Na questão técnica, de visão política, acredito que o Chico esteja melhor preparado para assumir algumas tarefas. São duas grandes lideranças que temos. Tem que haver sempre o respeito, um sempre respeitar os passos do outro, isso é fundamental, até para crescerem juntos, nunca numa visão antagônica, que pode atrapalhar, e muito.
VERBO – Por outro lado, há análise de que o Geraldo é mais popular que Chico Brito.
Giannini – Não tenho dúvida nenhuma disso. O Geraldo tem um carisma muito grande, ninguém consegue 132 mil votos para deputado estadual de graça, e [mais da metade] dentro do município de Embu, quando muita gente não acreditava nem que chegasse aos 80 mil, dentro do partido mesmo, e ele estourou de votos. Agora, foi só obra do Geraldo Cruz em si. Obviamente, não. É uma composição, é o Geraldo com toda a sua competência, todo seu carisma, aliado a um grupo político que ajuda a conduzir [o projeto], aplicando políticas públicas aqui no Embu que hoje são referência na região.
Pergunta – Se o João Leite não conseguir [se eleger], vocês vão repensar a estratégia [para 2016]? O [presidente da Câmara] Doda aceitou retirar a pré-candidatura em apoio a João Leite.
Giannini – Lógico. Quando o time está bom, ganhando, a tendência é manter. Quando tem falhas, tem que procurar corrigir, trocar as peças, mudar desde o técnico até o jogador. É um processo natural. Mas estamos apostando na competência do João e no poder de articulação deste grupo que está fechando [apoio] em torno da candidatura dele.
A reportagem mostra o ‘bom’ e velho Giannini, pragmático e mais oportunista que nunca, aliado ao que de pior combatemos na política de Embu nos últimos 30 anos, pra dizer o mínimo. Fique com Chico Brito, camarada! Perdemos realmente algo pelo caminho… Um reparo: Giannini é um dos mais antigos filiados, mas NÃO É FUNDADOR DO PT DE EMBU. Aliás, em 1982 apoiou o candidato do PMDB, a pedido de representantes da igreja progressista.
Att
Márcio Amêndola de Oliveira
HIPOCRISIA À FLOR DA PELE
A reportagem mostra o ‘bom’ e velho Giannini, pragmático e mais oportunista que nunca, aliado ao que de pior combatemos na política de Embu nos últimos 30 anos, pra dizer o mínimo. Fique com Chico Brito, camarada! Perdemos realmente algo pelo caminho… Um reparo: Giannini é um dos mais antigos filiados, mas NÃO É FUNDADOR DO PT DE EMBU. Aliás, em 1982 apoiou o candidato do PMDB, a pedido de representantes da igreja progressista.
Att
Márcio Amêndola de Oliveira