ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
O ator e diretor teatral Mário Pazini Júnior, artista-símbolo no papel de Jesus da encenação da Paixão de Cristo em Taboão da Serra, morreu na tarde (14h) desta segunda-feira, dia 31 de março, por falência múltipla dos órgãos decorrente de câncer de pleura (membrana que reveste os pulmões). Estava internado havia uma semana no hospital 9 de Julho (região central de São Paulo), onde deu entrada após sentir falta de ar aguda. Ele lutava contra a doença havia um ano.
Mário era conhecido por ter participado da Paixão de Cristo desde quando no ventre da mãe, em 1962 – ano em que nasceria, em 26 de novembro, na cidade. Therezinha Pires Pazini era “Maria” e hoje chora a perda do talentoso filho – está com 78 anos. Já falecido, Mário Pazini, o pai, fazia Cristo, papel que mais tarde o Júnior viveria, após ser o “Menino Jesus”. A épica encenação sobre a vida, morte e ressurreição do Filho de Deus fora criada seis anos antes, por Manoel da Nova.
Mário fez a Paixão de Cristo, sempre no papel central, por seis anos, em 2000 e de 2002 a 2006 – em 2001, deu lugar a um ator global convidado, Norton Nascimento (1962-2007). Na penúltima vez como Jesus, em 2005, Mário passou um susto ao cair, após solavanco, de carrinho no trilho que o levaria ao alto do morro do Cristo para ressurreição, mas realizou a cena. Em 2007, o grupo do qual fazia parte foi substituído sob alegação do governo Evilásio Farias (PSB) de renovação do elenco.
Apesar dos obstáculos, a Paixão de Cristo fazia parte da vida de Mário. “Significava muito, por ser o principal espetáculo de Taboão e seus pais também terem participado. O sentimento era de amor pelo espetáculo e respeito, porque ele sabia que representava muito para os moradores aqui”, disse ao VERBO a filha mais velha, Tauany Clemente Pazini, 24. “Tanto que muitas pessoas na rua ainda o chamavam de Jesus. Era uma interpretação de coração, verdadeira e emocionante.”
Depois, ele ficou mais um ano na Paixão de Cristo como diretor. Durante encenação no ano passado, já no morro do Cristo, Mário assistiu aos atos finais de longe, distante da massa de milhares pessoas, com ar saudoso, na companhia de alguns familiares, presenciou a reportagem – era 29 de março. Ele, que fazia teatro desde os 18 anos e se formou na celebrada Escola Macunaíma, era um dos idealizadores e diretor do Clariô, um dos principais grupos teatrais de Taboão.
No dia 24 de fevereiro, o Clariô ganhou o prêmio “Governador do Estado” como o melhor espaço de inclusão cultural, que coroou a trajetória de Mário e equipe. “Eles batalharam muito por isso”, disse Tauany. Resta saber como ficará o teatro sem o mestre. “Ainda não sabemos, mas com certeza a esposa continuará tocando o grupo, que era muito importante para ele”, explicou. Mário deixa a mulher, a atriz Naruna Costa, e duas outras filhas, as gêmeas Tainá e Taynara, de 18 anos.
Amigos se despediram do ator. “Foi no seu espaço de teatro que aprendi a perder toda a timidez , onde descobri a confiar mais em mim. Um espaço tão simples mais sempre rico de alegria, foi nele onde escolhi passar minha infância, vendo suas peças”, disse Leticia Helena. “Ator maravilhoso, o eterno Cristo das Sextas-feiras da Paixão no Taboão”, disse Luciana Lu Lima. O velório acontece a partir das 2h da manhã desta terça-feira e o enterro será às 16h no Cemitério da Saudade.
EM CENA, MÁRIO PAZINI (1962-2014)