‘Sonho impossível’ abriga felicidade, diz protagonista de ‘La Mancha’

Especial para o VERBO ONLINE

Adelmo Rosa, 62, vive Quixote e o próprio Cervantes ao contar aventuras de 'O Homem de La Mancha', no Cemur
Adelmo Rosa, 62, vive Quixote e o próprio Cervantes ao contar aventuras de 'O Homem de La Mancha', no Cemur
Adelmo Rosa vive Quixote e o próprio Cervantes ao contar aventuras de ‘O Homem de La Mancha’, no Cemur

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra

“O Homem de La Mancha” (classificação 14 anos), inspirado na vida e obra do escritor espanhol Miguel de Cervantes, que viveu entre os séculos 16 e 17, mostra que viver o “sonho impossível” não é utopia e pode transformar a realidade desumana e as pessoas. “É toda uma filosofia de vida. Viver um sonho, o que pode ser loucura – a vida como ela é é loucura –, pode fazer a pessoa feliz”, diz em entrevista ao VERBO o ator Adelmo Rosa, 62, que divide o papel do protagonista com Joselito Gaza. Em curtíssima temporada, o espetáculo de 1h50 e 47 atores, está chegando ao fim.

O fidalgo Alonso Quijano, um velho fazendeiro que decide se aventurar ao lado do fiel escudeiro Sancho Pança e lutar contra as injustiças que o cercam, Dom Quixote, nome que adota na empreitada, e o próprio Cervantes, que conta a história para se defender do “julgamento” dos colegas de prisão, acusado de herege, serão vividos por Adelmo na última apresentação do musical, na noite deste sábado, dia 9, às 20h, no Cemur (centro de Taboão da Serra). Com entrada franca e ovacionado pelo público desde a estreia, quarta-feira, dia 6, reserve entrada (tel. 4787-8277).

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VERBO ONLINE – Como definiria a pessoa e o personagem central deste musical sobre Miguel de Cervantes?
Adelmo Rosa –
Miguel de Cervantes foi um escritor a quem já admirava e poder interpretá-lo foi maravilhoso. O musical sobre Dom Quixote foi apresentado [nos anos 1960] na Broadway [teatro de Nova York, Estados Unidos], no mundo inteiro, e adaptação para o português foi muito emocionante, algo que eu nunca tinha feito, ainda mais com um texto como este.

VERBO – É um personagem denso…
Adelmo – Muito. É toda uma filosofia de vida que ele transmite, os sonhos. Seria quase uma bíblia, [e ele] um Jesus Cristo, que apresenta ensinamentos como viver melhor, a paz.

VERBO – Como foi a preparação para viver, na verdade, três personagens [Alonso Quijano e Dom Quixote de La Mancha, além do próprio Cervantes] em uma mesma peça?
Adelmo –
O elenco todo se preparou desde maio, mas a parte do texto começou há dois meses e teve que ser muito intenso, com ensaios diurnos, noturnos e ‘madrugadurnos’ [ri]. Mas com um pessoal muito generoso, muito eficiente, principalmente a direção, a parte técnica, que chegou ao final. É um elenco de produção violento, nunca havia trabalhado com um time tão bom, temos direção de palco, cena, de dança, coreografia etc, fora a música, com o maestro, uma coisa complexa, mas muito bem concatenada. Na verdade, os ensaios gerais, grandes, não foram muitos, não tínhamos tanto tempo, ensaiamos picado, por cena, creio que, por isso, o resultado foi muito bom.

VERBO – Esse papel se situa em que patamar de sua carreira como ator?
Adelmo –
Para mim, foi um ápice, não sou um ator de profissão, logicamente que faço teatro por amar, o teatro, para mim, é uma paixão. Vindo para Taboão [da Serra] com 14 anos, conheci o Tesol [companhia Teatro de Expressão Sol], um dos grupos teatrais de Taboão – que, aliás, tem muitos –, comecei a frequentar, fazer algumas peças, aprender bastante, porque, apesar da minha idade, não tinha tido tantas aulas e oficinas. Mas foi só a partir de 2006 que me dediquei ao teatro com afinco, nem faz tanto tempo que me considero mais ator. E foi através deles acabei chegando à Paixão de Cristo aqui de Taboão, interpretei papéis até de importância como Caifás, João Batista, agora em 2013 foi o quinto ano seguido de participação. Mas esta peça foi um grande presente, agradeço muito à direção por ter me escolhido para o papel.

VERBO – Qual o sentimento de voltar a contracenar com colegas de outros trabalhos e até amigos de palco?
Adelmo – É maravilhoso. Realmente, tem diversas pessoas com quem já trabalhei, outros a que já assisti e acompanhava, tenho amizade, mas com este trabalho acabei conhecendo mais ainda. Conheci o pessoal que veio de fora para fazer a direção, a Abigail [Wimer] e a Sílen [de Castro], toda a equipe de produção, o maestro Edison [Ferreira], quem eu já conhecia, mas com quem não tinha trabalhado. Conheci maravilhosos artistas. Conviver com pessoas que têm o dom, vontade, disponibilidade de fazer arte, principalmente o teatro, é indescritível.

VERBO – Como morador de Taboão, qual a sensação de subir ao palco de um espaço que para pessoas de fora é conhecido como o teatro da cidade, mas para o município é mais utilizado para eventos políticos e atividades diversas, e não para arte?
Adelmo –
Este musical poderia até ser melhorado em função de o espaço aqui não ter acomodação boa para teatro, o problema maior é de acústica, inclusive. Uma coisa que sinto, realmente, e que Taboão não tenha um espaço para teatro, multifuncional, que também pudesse receber projeção de cinema e outras artes. Mas é o que temos, e procuramos fazer o melhor para oferecer este espetáculo para o público.

VERBO – Você vai fechar o espetáculo [na última apresentação, será o protagonista…]
Adelmo –
Sim, é sequencial, a direção determinou que quem fizesse a abertura não faria o fechamento. Como são cinco apresentações, e o Zelito [Joselito Gaza], que é um ótimo, maravilhoso ator, fez a estreia [no papel principal], eu faço a apresentação final.

VERBO – A mensagem central deste musical é de que a transformação da realidade passa pelo sonho?
Adelmo – É uma das mensagens, o sonho pode mudar a realidade, aquilo que o Cervantes fala através do Dom Quixote ou do próprio Cervantes. Viver um sonho, o que pode ser loucura – a vida como ela é é loucura –, pode fazer com que a pessoa seja feliz.

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