ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
O prefeito de Embu das Artes, Chico Brito (PT), disse que quando ocorreu a enchente fazia um mês que ligava para o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), avisando que o piscinão no Jardim Independência só tinha uma bomba funcionando, e que cerca de 20 dias antes telefonou para o prefeito Fernando Fernandes (PSDB) para pedir que ajudasse a pressionar o órgão estadual para fazer a manutenção do reservatório, inclusive solicitou também a intervenção da deputada Analice Fernandes. Ele disse que o vereador Marco Porta (PRB), líder do governo de Taboão, mente ao falar que não cobrou providências. “Só lamento um parlamentar usar a tribuna para falar uma inverdade.”
De acordo com Chico, a solução definitiva para acabar com inundações no vale do Pirajuçara é construir moradias, retirar as famílias das margens e canalizar o córrego, “e não deixar ninguém voltar”. “O DAEE colocava como justificativa para não canalizar que não tinha para onde levar as famílias. Mas a CDHU desapropriou área de 60 mil metros quadros no Jardim Santo Eduardo”, comentou. Nesta sexta-feira, ele vai levar o secretário estadual Sílvio Torres (Habitação) para que conheça o terreno e constate o adensamento à beira do Pirajuçara. “Para ele ver a importância de acelerar as obras de habitação para retirarmos as famílias do córrego para o DAEE entrar com o projeto de canalização.”
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VERBO – O que provocou a enchente em Embu das Artes e Taboão da Serra no último dia 22 de janeiro?
Chico Brito – São vários fatores. A região mais atingida foi a do vale do Pirajuçara, e o principal córrego é o Pirajuçara, que faz divisa de Embu das Artes, São Paulo e Taboão da Serra. Ele está com as margens totalmente ocupadas, tem população ao longo de todo o percurso do córrego. Com essa chuva de 101 milímetros em 1 hora e meia, saturou toda a bacia do Pirajuçara, mesmo com córrego canalizado, como é o caso do Tomaz Antônio Gonzaga [no Jardim Independência], em Embu, que tem calha de três metros de profundidade e ficou com 1 metro e meio acima do nível da rua – não foi só problema dos córregos de Embu que não estão canalizados, como o Pombas e o Botucatu [no Jardim Novo Campo Limpo]. O que acontece é que o Pirajuçara não tem vazão suficiente, travou lá embaixo, os córregos acima transbordaram. Existe um projeto antigo do governo do Estado, através do DAEE, para retirar as famílias da beira do córrego e canalizar. Hoje [quinta-feira], minha equipe está reunida com o pessoal do órgão para retomar o projeto. O DAEE colocava como justificativa que não canalizava o córrego porque não tinha para onde levar as famílias. E, há cerca de um mês, a CDHU desapropriou uma área de 60 mil metros quadrados no Jardim Santo Eduardo, na rua Minas Gerais. Eu estive [no dia 21 de janeiro] com o secretário estadual de Habitação, Sílvio Torres, e nesta sexta-feira [hoje] vou levá-lo até a área e também ao córrego Pirajuçara para ele ver a importância de a CDHU acelerar as obras de habitação para retirarmos as famílias das margens para que o DAEE entre com o projeto de canalização.
VERBO – É a solução definitiva para que famílias não sofram mais com enchentes?
Chico – É a solução construir habitações, retirar as famílias e canalizar o córrego, e não deixar ninguém voltar para a beira do rio – períodos de estiagem e de cheia são cíclicos na natureza, o problema é que nós, sociedade e poder público, somos corresponsáveis pela ocupação das margens do córrego. Vai amenizar em 99% as situações de cheia. É óbvio que em uma chuva torrencial em meia hora, em uma hora os próprios rios canalizados, talvez, não deem conta. É feito um cálculo para canalizações, como fizemos no Tomaz Antônio Gonzaga, fizemos com base nos últimos 50 anos de cheias, mas mesmo assim quando se tem um volume muito grande de chuva não tem jeito.
VERBO – Quantas famílias precisariam ser retiradas dessas áreas?
Chico – No trecho do córrego Pirajuçara em Embu, são 300. Mas estamos viabilizando habitação para tirar o pessoal da favela Dois Palitos. Para as famílias de lá, já estamos construindo 336 apartamentos, no Jardim São Marcos. Vamos retirar as que estão à beira do córrego, irão para os apartamentos em agosto ou setembro, e vamos canalizar o córrego Dois Palitos. Em relação aos córregos que são dentro do município, não estão na divisa de município, já estamos viabilizando habitação, como no caso do Pombas-Botucatu, Castilho. Agora, 80% das famílias atingidas estão na bacia do Pirajuçara. Para essas, já está “amarrado” o projeto, levando em conta de que o secretário já desapropriou a área. Na visita dele nesta sexta-feira, vamos pedir para que acelere a construção para o DAEE entrar na sequência com a canalização.
VERBO – No dia da chuva, qual era a situação do piscinão do Independência? Estava cheio, as bombas funcionavam?
Chico – Desde 2011 existe um convênio entre a prefeitura e o Estado em que fica claro que é responsabilidade do governo estadual a manutenção do piscinão.
VERBO – Inclusive limpeza?
Chico – Limpeza e manutenção das bombas, isso é responsabilidade do governo estadual – em Taboão tem piscinão que é de responsabilidade do governo do Estado e tem também que é da prefeitura, o único que existe em Embu é de responsabilidade do governo estadual. Tinha uma bomba funcionando, e já fazia um mês que eu ligava para o DAEE avisando. O dr. Alceu [Segamarchi Jr., superintendente do DAEE] me falava que estavam em processo de contratação emergencial de uma empresa para fazer a manutenção das bombas e a limpeza do piscinão. Tanto é que depois que aconteceu essa desgraça colocaram uma empresa para fazer a manutenção das bombas. Quanto à limpeza, ele me garantiu que, depois de passar este período que historicamente seria de chuva – mesmo atualmente não sendo -, vão fazer.
VERBO – Quantas bombas eram no total?
Chico – São duas, sempre funciona bem com duas. Depois da enchente, eles viram o estrago feito e colocou empresa para fazer manutenção permanente dessas bombas, são sempre duas funcionando.
VERBO – Desde quando limpeza e manutenção não eram feitas?
Chico – A limpeza não é feita desde 2010. O governador Alckmin esteve [em 2011] no piscinão, assumindo o compromisso de que contrataria uma empresa para fazer a limpeza. Tiveram problemas, o Tribunal de Contas questionou a contratação que estavam fazendo, iam fazer uma PPP [parceria-público-privada] de manutenção de piscinões em São Paulo. Eles tiveram que contratar emergencialmente, infelizmente o contrato emergencial saiu justamente neste período.
VERBO – O líder do prefeito de Taboão da Serra na Câmara, vereador Marco Porta (PRB), disse em tribuna na terça-feira que antes da chuva Fernando Fernandes ligou para o sr., alertando de que as bombas do piscinão em Embu não estavam funcionando e pediu para que acionasse o DAEE para resolver o problema, mas o seu governo nada fez.
Chico – A bem da verdade, o que aconteceu – quando eu e o Fernando Fernandes estivermos juntos você pode questionar na nossa frente – é que uns 20 dias antes do ocorrido liguei para o Fernando. Coloquei para ele essa preocupação, falei que estava ligando para o DAEE e era interessante ele também ligar para pressionarmos juntos para fazerem a manutenção. Ele ligou, eu também liguei, uma vez que não posso entrar no piscinão para fazer a manutenção, até porque é trabalho do governo do Estado. Não estou entendendo esse empurra de responsabilidade, uma vez que somos corresponsáveis pela população de nossas cidades. Inclusive, eu liguei para a deputada Analice Fernandes, estavam na minha sala – você pode confirmar – o assessor dela Arthur Almeida e a vereadora Rosana do Arthur, antes de 22 de janeiro. Eles estavam comigo quando liguei também para a deputada, pedindo para ela intervir junto ao DAEE para fazer a manutenção. Duvido que o Fernando tenha distorcido a informação, estou creditando essa inverdade ao vereador, não ao prefeito.
VERBO – Qual o interesse do vereador?
Chico – Talvez justificar porque teve enchente em Taboão e colocar isso na conta de Embu das Artes. É um equívoco, as enchentes que ocorreram em Taboão não foram por conta do piscinão em Embu, e os piscinões em Taboão?
VERBO – O que é que têm?
Chico – Também encheram. O centro de Taboão, que historicamente não alagava, alagou, e não recebe água só do piscinão de Embu. Não sei a intenção dele, só lamento um parlamentar usar a tribuna para falar uma inverdade.
VERBO – A vereadora Joice Silva disse que a prefeitura de Embu não prestou ou não prestou de imediato ajuda às famílias atingidas pela enchente.
Chico – A vereadora tem que tomar conta da cidade dela. Tivemos 950 famílias atingidas, e eu quero que ela me apresente um morador de Embu que teve problema e não foi atendido pela Defesa Civil da nossa cidade. Agora, tem [moradores na] divisa de Taboão que o município lá tem que tomar conta, não nós.
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