RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
O bebê de uma jovem que deu à luz no Hospital Geral Pirajussara, em Taboão da Serra, corre risco de morte ou sequelas graves por conta de que o HGP não tem neurologista e nem providencia o especialista ou a transferência da criança. Os pais, de 19 anos, e familiares relatam que o menino – que está na UTI – teve convulsões após demora na realização do parto e que voltou a apresentar o quadro e não pode ter tratamento adequado por falta do médico.
O bebê não foi para o lar com a mãe e completou dois meses no HGP, na sexta-feira (26) – no dia o VERBO visitou a família, na região do Pirajuçara. O drama do casal Manuella Pires e Maxwell da Silva começou quando a jovem, em gravidez de alto risco devido a pressão alta, foi encaminhada ao HGP. Em trabalho de parto, Manuella foi ao hospital no domingo 24 de fevereiro duas vezes, mas foi mandada para casa. Na segunda, foi internada para fazer parto normal.
Com o passar das horas, Manuella começou a passar muito mal e ter pressão muito alta, até que foi levada para a sala de parto. O bebê estaria em posição que não daria para fazer parto normal, mas a equipe médica forçou, até realizar através de fórceps (espécie de pinça para auxiliar a retirada do feto). Quando nasceu, no dia 26, o menino já estava roxo. Após pouco tempo perto da mãe, ele começou a ter convulsões uma atrás da outra e foi levado às pressas à UTI.
O bebê foi submetido a vários exames na cabeça para saber por que as convulsões persistiam. Porém, o HGP não tem neurologista para verificar os exames e avaliar o quadro da criança. “Eu peguei meu neto duas vezes e vi que tinha alguma coisa errada, ele tremia. Quando a doutora passou, falei: ‘Vi umas coisas diferentes nele, pode ser convulsão’. Na hora que ela veio examinar, percebeu que ele estava tendo [convulsão]”, conta a mãe de Manuella, Giana Pires.
A médica disse que o bebê teria, “provavelmente”, síndrome de West (epilepsia na infância). “Eu questionei: ‘Mas por que essa doença?’. Ela inicialmente disse que podia ser por causa de sífilis. Discuti com ela: ‘Não tem como, todos os exames de pré-natal foram feitos, se fosse teria constado’. Eu ainda falei: ‘E se eu pagar um exame particular para provar que minha filha não tem? – porque ela não tem’. Aí ela falou: ‘Ah, mas agora não vai constar'”, relata a avó.
“Comecei a questionar, que precisava ter um diagnóstico, saber o que meu neto tinha. Com o passar do tempo, ela falou: ‘Já não sei dizer se é essa doença, o hospital não tem neurologista’. Falei: ‘Se o caso é grave, ele tem que ter acompanhamento do neuro’. Ela falou: ‘Infelizmente, não posso pagar com o meu salário um neuro’. Eu a questionei que ela disse que passava um neuro toda semana. Aí ela admitiu: ‘Realmente, não tem neuro há muitos anos”, conta.
A mãe de Manuella conversou com o diretor da UTI neonatal, mas em vão. “Ele falou para mim: ‘O caso de seu neto é grave. Vocês estão achando que vai ser fácil? Ele vai ser uma criança que vocês vão ter que cuidar o resto da vida, ele tem um problema na cabeça’. Aí eu questionei de novo: ‘E o neuro?’. Ele falou: ‘Não temos o neuro’. Falei: ‘Por que não pedir a transferência?’. Ele: ‘A transferência de SUS para SUS, a gente não consegue’. Falei que tinha que tentar”, relata.
“O que ele e a médica só sabem falar é que o caso é grave, mas ninguém faz a transferência. Eu não consigo entender. O moleque está lutando para viver, fez ressonância, tomografia, vários tipos de exame de sangue, há um mês. Só que não tem nenhum neuro para ver os resultados, nos dar um diagnóstico concreto”, protesta Giana. “Questionei também se o problema do meu neto foi por falta de oxigênio no cérebro. Acredito que ele passou da hora de nascer”, acusa.
Manuella acredita que o quadro crítico do filho tenha relação com o parto. “Fizeram fórceps em mim. Esse parto é proibido, não pode fazer, e tiveram que fazer no meu caso. Depois, ele começou a ter crise convulsiva, provavelmente por causa do ferro [instrumento cirúrgico] que prensou a cabecinha dele. E a gente não tem um diagnóstico concreto do hospital, eles não falam nada. O hospital não faz a transferência porque tem algo a esconder”, denuncia a mãe.
A família denuncia também que o HGP ficou sem o anticonvulsivo para o bebê. Desesperados, os pais chegaram a sugerir levar o medicamento. Não foram autorizados – o menino ficou três dias sem o remédio. “Em cada convulsão ele pode ter uma sequela. A gente quer comprar e não pode”, protesta Maxwell. O pai também viu o filho ter uma parada respiratória após tomar medicação. “Tiveram que entubar. Eles quiseram me tirar da sala. Falei: ‘Não vou sair'”, conta.
A família quer que o bebê tenha a patologia diagnosticada para ser tratado e possa ir para casa. “Eu não me importo do jeito que ele venha, se tiver que carregar no colo, se vai mamar através de sonda. Eu quero ele aqui! Quero que ele passe com o neuro para termos um diagnóstico. Tem dois meses que ele está lá! Eles estão segurando a transferência porque sabem que foi um erro médico”, desaba a avó. Procurado pela reportagem, por e-mail, o HGP não respondeu.
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Tive o meu segundo filho nesse hospital e eles erraram o diagnóstico falaram que eu tinha hepatite b sem ao menos fazer exames de sangue