Raquel fala na periferia e diz que ‘Dez Mandamentos’ não é fiel sobre Egito

Especial para o VERBO ONLINE

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

A folclorista, coreógrafa e artista plástica Raquel Trindade, filha do poeta Solano Trindade, disse que a novela “Os Dez Mandamentos” retrata os faraós, título dos reis do Antigo Egito, de forma equivocada e que atribuir o nome Dandara a uma mulher do quilombo de Zumbi é um “erro histórico”, ao participar na sexta-feira (20) de evento da Associação Comitiva Esperança em comemoração ao Dia da Consciência Negra no Jardim Casa Branca, em Embu das Artes.

Raquel com grupo de maracatu do Teatro Solano Trindade, que fundou, antes da palestra no Jd. Casa Branca

“Eu fico muito preocupada que, às vezes, ensinam errado a história do negro. As pessoas falam do Egito como se não fosse África e mostram um retrato do Egito branco, os faraós não eram brancos, como ‘Os Dez Mandamentos’ mostrou. É bonita a roupa, a história está certa, mas os personagens não eram daquele jeito, a maioria dos faraós tinha um nariz bem chato e a pele morena”, disse Raquel. Com grande sucesso, a novela da TV Record acaba nesta segunda-feira (23).

No palco de mosaico no bairro, Raquel ressaltou na palestra ao ar livre que o negro, antes da colonização da África, não era um povo primitivo. “Gana já tinha uma escrita, o Egito já fazia cosmético, já tinha os hieróglifos, já fazia operação de cérebro. O Quênia já fazia cesariana. Éramos uma grande civilização”, disse, ao exaltar o Dia da Consciência Negra. “É muito importante para a autoestima do povo negro, que tem toda uma história, tem toda uma cultura”, completou.

Sobre a origem da data, Raquel fez nova ressalva e disse que “deturpar a história do negro, contar errado é pior do que não contar”. Ela falou que Dandara, que se tornou nome de muitas negras, não foi uma mulher do Quilombo dos Palmares. “Dandara é um nome muçulmano, mulher não podia ter. Dandara é Elesbão Dandara, da revolta muçulmana dos malês, na Bahia, em 1835”, afirmou. Muitos ativistas negros se referem, porém, a Dandara como mulher de Zumbi.

Raquel disse que Zumbi é o ícone da resistência à escravidão, mas existiram outros quilombos “com grandes líderes”. Ela disse também comemorar João Cândido, lembrado neste domingo, 22 de novembro, quando em 1910 liderou marinheiros rebelados. “Muitos anos depois de Palmares, mas ele teve uma força muito grande, quando os negros eram chicoteados pelos oficiais brancos. Chamado ‘Almirante negro’, ele lutou e tirou a chibata da Marinha”, disse.

Raquel disse que falar do negro na periferia foi um privilégio. “Era o sonho de meu pai chegar ao mais humildes, ele tinha preocupação com os problemas sociais. E eu desde menina o acompanhei na militante política”, contou ela, ao afirmar que “temos que ter orgulho da nossa raça e procurar igualdade com todas as outras etnias”. Ela falou ainda que o 20 de novembro “é para o negro aumentar a autoestima e para o branco conhecer a nossa luta e nos respeitar”.

COTAS
Após Raquel, a assistente social Zélia Patrício apontou racismo em comportamentos como no elogio “que negra bonita”. “Ninguém fala ‘que mulher branca bonita’”, disse. Questionada se “todos são iguais, por que a cota racial”, disse que os negros foram “inseridos tardiamente no ensino” e a reserva de vagas “é pequena reparação do que o Estado brasileiro nos deve”. Ela contou que em uma faculdade para dar palestra ouviu se poderia servir o café. “O racismo dói”, disse.

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